Dizem confiar mais nas pesquisas em motores de busca para aceder a notícias online do que nas notícias que lhes chegam através das redes sociais. No entanto, os portugueses usam mais as redes sociais enquanto fonte de notícias, como mostram os dados do Digital News Report Portugal 2019. Este aparente paradoxo poderá querer dizer que a confiança na marca deixou de ser o único fator determinante da escolha das notícias que consomem. O interesse no tema pode hoje estar a um nível justificativo da escolha de notícias semelhante à confiança na fonte da notícia.
Os indicadores gerais da confiança mostram que quando falamos do acesso online a notícias, os portugueses dizem confiar mais nos motores de busca (43,5%) que nas redes sociais (26%). No entanto, quando apontam as suas fontes de notícias online preferenciais, são as redes sociais (com 26,3%) que se destacam em relação aos motores de pesquisa (com apenas 24,1%). Simultaneamente, ocorre neste ano uma queda significativa do Acesso direto a sites, como forma de aceder a notícias. No caso do Acesso direto a sites a quebra entre 2018 e 2019 foi de 3,8 pontos percentuais.
Consumo de notícias através da internet
Em relação ao consumo de notícias através da internet, as Redes Sociais são a forma de acesso mais mencionada (26,3%), registando um aumento de 3 pontos percentuais em relação a 2018. Já o acesso direto a websites de notícias sofreu uma quebra de 3,8 pontos percentuais, caindo para os 20,4%, enquanto a utilização de motores de busca para chegar a notícias se manteve estável.
O aumento das redes sociais como forma de acesso a notícias, quando o acesso direto aos sites e notícias decresce evidencia uma tendência preocupante para as marcas portugueses de notícias, uma vez que estarão cada vez mais dependentes destas plataformas para distribuição e monetização de conteúdos.
Confiança nas notícias
Portugal continua bem posicionado (2º em 38) no que respeita a confiança em notícias, de acordo com os dados do Reuters Digital News Report 2019, logo atrás do líder, a Finlândia. No entanto, apesar de continuar nas posições cimeiras, Portugal segue a tendência geral de decréscimo na confiança, com uma quebra de 4,2 pontos percentuais entre 2018 e 2019. No quadro da confiança em notícias os portugueses mais indecisos, ou mesmo indefinidos, quanto ao seu posicionamento político, tendem a confiar menos em conteúdos noticiosos (49,3%) do que a amostra em geral.
Podcasts, televisão e Internet
No ano em que os podcasts foram uma das maiores surpresas, com 34% dos portugueses a afirmarem ter escutado um podcast, independentemente do género, no mês que antecedeu o inquérito, a televisão continua a ser o meio mais usado para aceder a notícias, entre os portugueses, em geral.
A internet é o segundo meio mais utilizado, com a rádio e imprensa tradicionais a ter uma importância secundária enquanto fontes de notícias. Com os respondentes mais velhos a ter um peso bastante substancial nos consumos de notícias da Televisão, Imprensa e Rádio – mais de metade dos inquiridos que afirmam ser estas as suas fontes de notícias têm 55 ou mais anos). A Internet, e em particular as Redes Sociais, apresentam distribuições etárias de onde sobressaem as camadas mais jovens da população portuguesa.
Alguns pontos-chave:
Confiança e orientação política
Portugal destaca-se em 2019, mais uma vez, como o segundo país onde mais se confia em notícias (58%), sendo ultrapassado apenas pela Finlândia (59%), com a média relativa aos mais de 80 mil inquiridos a nível global situada nos 42%. Os níveis de confiança em notícias acedidas através de motores de busca e redes sociais obtêm níveis de confiança significativamente mais baixos, na ordem dos 44% e dos 27%, respetivamente.
A orientação política dos inquiridos é uma variável-chave na interpretação dos dados deste ano. 27,2% dos portugueses dizem-se de esquerda, 42,1% posicionam-se ao centro, 9,0% dizem ser de direita e cerca de 1/5 dos inquiridos (21,8%) consideram-se indecisos ou indefinidos (Ns/Nr). O cruzamento desta variável com os diversos indicadores estatísticos revela que os portugueses indecisos ou indefinidos tendem a confiar menos em conteúdos noticiosos (49,3%)
do que a amostra portuguesa em geral. Tendem, também, a ter menos interesse por política em geral, a preocupar-se menos com a legitimidade de conteúdos noticiosos online, e têm uma visão menos positiva do papel do jornalismo contemporâneo.
Televisão continua a ser a principal fonte notícias
Tanto em termos de fontes noticiosas, como de utilização em geral, observa-se o prolongamento da importância da Televisão e da Internet enquanto fontes noticiosas. No entanto, a primeira continua a exercer a sua primazia face à segunda em termos de utilização enquanto principal fonte de notícias (58% face a 30,9%). A Rádio e Imprensa tradicionais continuam a ter uma importância secundária enquanto fontes, tanto na utilização geral como no uso enquanto fontes principais de notícias.
A idade dos inquiridos continua a ser um fator determinante na sua relação com as fontes noticiosas. Os mais velhos têm um peso muito substancial na Televisão, Imprensa e Rádio (quase metade dos inquiridos que fazem destas as suas principais fontes de notícias têm 55 e + anos) sendo que a Internet, e em particular as redes sociais, apresentam distribuições etárias que atraem as camadas mais jovens da população portuguesa.
Redes sociais são a principal forma de acesso a notícias online
A principal forma de acesso a notícias online foram redes sociais (26,3%), que registam entre todas as formas de acesso o maior aumento face a 2018 (+3% face aos 23,3% registados no ano anterior). O acesso direto a websites de notícias regista uma quebra de 3,8 pontos percentuais para os 20,4%, sendo que as pesquisas por motor de busca se mantiveram relativamente estáveis. A crescente utilização das redes sociais como principal forma de acesso a notícias em paralelo com o decréscimo dos acessos diretos representa uma tendência preocupante para as marcas portuguesas de notícia, que desta forma estarão cada vez mais dependentes das redes sociais para a monetização dos seus conteúdos, perdendo, no processo, receitas publicitárias e relacionadas com a visibilidade direta dos seus recursos online.
Podcasts
A utilização de podcasts no mês que antecedeu a resposta ao inquérito foi um dos dados surpreendentes – 34% dos portugueses dizem ter escutado um podcast, independentemente do género, no período em análise. Portugal surge acima da média global por 6 pontos percentuais, ficando atrás apenas de Coreia do Sul, Espanha, Irlanda, Estados Unidos e Suécia. A preferência dos portugueses vai para podcasts especializados (Economia, ciência, tecnologia) (12,8%) seguida de podcasts noticiosos (12,0%) e sobre desporto (10,0%). A audição de podcasts é
particularmente popular entre os mais jovens: mais de metade dos portugueses entre os 18 e os 24 anos escutou algum no último mês.
A imprensa regional
Os jornais regionais assumem uma posição de relevo nesta análise, pela sua posição, em conjunto, como 3ª “marca” mais lida no nosso país na semana que antecedeu a resposta ao inquérito. Cerca de 1/5 dos portugueses afirma ter lido alguma publicação local ou regional em formato tradicional no período em análise.
Explorando este dado com maior profundidade, observa-se que a imprensa regional tem maior impacto no arquipélago da Madeira (37,3%), região Centro (21,9%), Açores (21,3%) e Alentejo (18,8%). Só na Área Metropolitana de Lisboa é que a leitura de algum jornal regional se posiciona abaixo dos 10 pontos percentuais.
Portugal continua entre os países onde menos se paga por notícias online
Entre as tendências mais negativas que caracterizam a relação dos portugueses com os conteúdos noticiosos destaca-se a fraca adesão a práticas de pagamento por conteúdos noticiosos. Em 2019, apenas 7,1% dos portugueses afirmam ter pago por notícias online no ano anterior. Portugal destaca-se de forma muito negativa em termos de práticas de pagamento por notícias face aos restantes 37 países inquiridos no âmbito do RDNR 2019, sendo dos países onde menos se paga por notícias. Em todo o caso, também na amostra global os dados são preocupantes, com apenas 13% dos mais de 80 mil inquiridos a dizer ter pago por notícias no ano anterior.
O Reuters Digital News Report 2019 (ReutersDNR 2019) é o oitavo relatório anual do Reuters Institute for the Study of Journalism (RISJ) e o quinto relatório a contar com informação sobre Portugal.
Enquanto parceiro estratégico, o OberCom – Observatório da Comunicação colaborou com o RISJ na conceção do questionário para Portugal, bem como na análise e interpretação final dos dados.
METODOLOGIA
Todos os números, exceto quando referenciado, são da YouGov Plc. A pesquisa foi levada a cabo em 38 países; Estados Unidos da América, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Espanha, Portugal, Irlanda, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Bélgica, Holanda, Suíça, Áustria, Hungria, Eslováquia, República Checa, Polónia, Croácia, Roménia, Bulgária, Grécia, Turquia*, Coreia do Sul, Japão, Hong Kong, Malásia, Taiwan, Singapura, Austrália, Canada, Brasil*, Argentina, Chile e México*, África do Sul.
O tamanho total da amostra foi de mais de 80 mil adultos, cerca de 2000 por país. O trabalho de campo foi realizado no final de janeiro / início de fevereiro de 2019.
À semelhança das edições anteriores, o inquérito de 2019 foi mediado pela YouGov e aplicado a uma amostra representativa da população portuguesa (n=2010).
O inquérito foi realizado online. Os dados foram ponderados para as metas estabelecidas tendo em conta a idade, sexo, escolaridade e região, de forma a refletir a população total. A amostra é reflexo da população que tem acesso à internet e os entrevistados foram excluídos se não tivessem tido acesso a notícias no último mês.
* Por favor, tenha em conta que o Brasil, a Turquia e o México são representativos de uma população urbana e não da população nacional. Como tal, a penetração da Internet é provavelmente maior do que no país como um todo, o que deve ser levado em consideração ao interpretar os resultados.
Ficha Técnica
Título: Reuters Digital News Report – Portugal
Data: Setembro 2019
Fontes: Inquérito Reuters Digital News Report 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019)
Coordenação Científica Internacional: Reuters Institute for the Study of Journalism, Nic Newman, Richard Fletcher, Antonis Kalogeropoulos e Rasmus Kleis Nielsen
Coordenação do Apoio à recolha em Portugal: OberCom – Observatório da Comunicação, Gustavo Cardoso
Autoria: Gustavo Cardoso, Miguel Paisana, Ana Pinto-Martinho
Tags:confiança nos media, Digital News Report, jornalismo digital, Redes sociais