O Congresso já está. E agora?

Fevereiro 14, 2017 • Jornalismo, Últimas • by

Foto: Bruno Lisita (MediaLab)

O Congresso dos Jornalistas era um compromisso eleitoral da atual direção do Sindicato dos Jornalistas. Mas era também uma vontade antiga e um desejo adiado por muitos jornalistas em Portugal.

Quase duas décadas depois do último congresso, só o facto de este encontro se ter cumprido é notícia.
O jornalismo conhece:
– a mais alta taxa de desemprego de sempre;
– os salários que são indignos para uma profissão com a responsabilidade social que esta tem – um terço dos jornalistas ganha hoje menos de 700 euros líquidos;
– uma precariedade que não escolhe idades e este tipo de vínculos – que, na verdade, não o são – e que é já uma realidade para um terço dos jornalistas;
– redações que se esvaziam de gente e, com esta, vai-se a diversidade de olhares;
– um tempo em que o lema passou a ser fazer muito em menos tempo;
– uma situação em que o exercício da profissão está muito condicionado a agendas e decisões impostas por chefias e administrações;
– um tempo em que pertencer a sindicatos, comissões de trabalhadores e conselhos de redação tem um preço demasiado alto;
– um tempo em que o espírito crítico está adormecido;
– um tempo em que o medo e a autocensura se instalaram.

Os inscritos no congresso chegaram aos 800 e o encontro foi muito participado. Foram aprovadas algumas dezenas de propostas.

Não tínhamos a pretensão de encontrar uma solução milagrosa para todos os problemas que o jornalismo enfrenta hoje. As preocupações são muitas e persistem.

Portanto, impõe-se agora que nos concentremos em executar o que foi aprovado pela maioria dos participantes, começando pelas propostas que não encontraram oposição, desde logo a do combate à precariedade laboral, que pode assumir várias formas, dos despedimentos aos falsos recibos verdes ou prestadores de serviços, passando por salários baixos e esvaziamento das redações.

O reforço dos órgãos representativos dos trabalhadores – delegados sindicais, comissões de trabalhadores e conselhos de redação – também foi pedido por muitos congressistas.

O Sindicato dos Jornalistas – numa parceria inédita com outras duas associações representativas da classe, a Casa da Imprensa e o Clube dos Jornalistas – assumiu o compromisso de realizar um congresso e cumpriu.

Esperamos agora que outros o assumam, sem que seja preciso esperar outros 20 anos para nos voltarmos a encontrar.
Temos o dever de, juntos, refletir sobre o exercício de uma profissão que desempenha um papel fundamental em democracia. E de a tornar melhor, apresentando soluções para os desafios que enfrenta.

O exercício livre e independente da liberdade de imprensa não é uma causa de jornalistas, é uma causa de cidadãos. É a democracia que está em jogo.

Nota EJO: As entidades promotoras do 4.º Congresso dos Jornalistas Portugueses, em conjunto com a Comissão Organizadora, agendaram para 11 de março, uma sessão de um dia, a realizar-se no Cinema São Jorge, em Lisboa, para debater as propostas que foram aprovadas sem maioria qualificada e que, de acordo com a metodologia adotada em plenário, seguiriam para debate.

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