Generation E: Jornalismo de dados e Migração

Janeiro 7, 2015 • Jornalismo digital • by

Onze milhões dos cerca de 500 milhões de cidadãos da União Europeia vivem num país diferente daquele em que nasceram. O Generation E, o primeiro projeto transfronteiriço de jornalismo de dados sobre a migração jovem na Europa, tem por objetivo contar e catalogar algumas das suas histórias.

O único projeto pan-Europeu multilíngue faz o crowdsourcing e publica narrativas de jovens do sul da Europa, com idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos, que deixaram os seus países por razões que vão desde a procura de trabalho até ao gosto por viajar.

Financiado pelo Journalismfund.eu, este projeto independente que foi lançado em Setembro, é liderado por quatro jornalistas de dados de Itália, Portugal, Espanha e Grécia: Jacopo Ottaviani, Sara Moreira, Daniele Grasso e Katerina Stavroula. Para além de documentar a migração jovem Europeia, o projeto também pretende compilar estatísticas e trazer alguma luz sobre as tendências da imigração.

Milhares de jovens migram na Europa todos os anos mas faltam dados oficiais – ou nalguns casos eles pura e simplesmente não existem, afirma Jacopo Ottaviani fundador e gestor do projeto.

“Como jornalistas de dados fomos atraídos pela falta de dados e quisemos investigar”, comenta Ottaviani, que se mudou da sua cidade natal, Roma, para Berlim há três anos. Ottaviani também queria combater os estereótipos e mostrar que a migração ocorre por uma miríade de razões.

Do Erasmus para a Easy Jet

O “E” em Generation E, afirma Ottaviani, representa as muitas palavras que acabam por representar a juventude na Europa: desde Erasmus a Exodo e de Expat a Easy Jet.

Através de um questionário em seis línguas, os inquiridos respondem a três questões chave: Porque é que deixou o seu país, o que faz agora, planeia regressar? Quase 70% dos 2000 respondentes, até agora, saíram do seu país por questões relacionadas com o trabalho. Mais de metade deixaram os seus nomes e informações de contato.

“As pessoas querem mesmo que as suas histórias sejam ouvidas e encontrar pessoas com quem se identifiquem”, afirma Sara Moreira, jornalista portuguesa do Generation E que transformou entrevistas com respondentes numa história publicada em dezembro no jornal Público.

As histórias geradas pelo projeto têm vindo a ser publicadas todos os meses, até agora, por jornais como Il Fatto Quotidiano, em Italia, El Confidencial, em Espanha, RadioBubble, na Grécia e P3/Público, em Portugal, e no website alemão de investigação Correctiv. Elas são compostas por destaques das histórias em crowdsourcing, uma investigação de dados aprofundada, visualizada através de mapas e gráficos interativos, e entrevistas com investigadores e decisores de todas a Europa.

Uma falha nas estatísticas

Desde o início de uma grande recessão em 2008, dezenas de milhares de jovens gregos, espanhóis, italianos e portugueses imigraram para países em melhor situação financeira. No entanto, muitas vezes as estatísticas oficiais não têm em conta quando estes jovens entre os 20 e os 30 e poucos anos abandonam os seus países, afirma Ottaviani.

Por exemplo, 135.000 pessoas com idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos deixaram oficialmente a Itália, desde 2010, segundo Ottaviani, mas estima-se que por volta do dobro podem não estar registados. Oficialmente 250.000 italianos vivem no Reino Unido, segundo o Registo Italiano de Residentes no Estrangeiro (AIRE), e metade destes vivem em Londres.

Muitos jovens da União Europeia não sentem a necessidade de se “desregistar” quando vão para um novo país, ou de se registar nesse novo país, afirma Ottaviani. Como muitas vezes têm esperança de voltar, acabam por não documentar quando saem do seu país de origem. Além disso, alguns temem que possam perder a assistência à saúde no seu país se se registarem no novo país.

A jornalista de rádio grega do Generation E, Katerina Stavroula, tentou coligir dados para o projeto, mas ficou surpreendida ao saber que a Autoridade Estatísticas Helénica não tem registos sobre a migração jovem.

“Esta é a primeira vez que os media gregos estão a fazer um trabalho sobre esta temática”, afirma Stravroula, desde Atenas, onde se encontra.

Em 2015 o projeto entra na próxima fase que pode incluir novos e inovadores formatos de storytelling e novas publicações em países de destino, como a França. Este país é particularmente interessante, diz Ottaviani, porque é um popular tanto na imigração como na emigração.

Ottaviani espera que o projeto possa preencher a falha nos esforços do jornalismo pan-europeu. Enquanto muitos órgãos de comunicação social reportaram a recessão como a causa da migração jovem, frequentemente eles são muito específicos acerca do que se passa nos seus países, afirma, “em vez de tratarem como um assunto que vai para além das fronteiras nacionais”.

Créditos Fotografia: Flikr Creative Comms Emiliano

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