A crise dos refugiados representa um desafio ao jornalismo de toda a Europa. Obrigou as redações a questionar a forma de reportar este complexo fenómeno, de uma forma sensata, sem enveredar por estereótipos e sem desumanizar os refugiados.
A Aliança Italiana para os direitos civis e liberdades (CILD) lançou o Open Migration, um novo site de notícias relacionado com a crise dos refugiados.
“Reparámos numa falta de perspectiva no reportar da crise dos refugiados”, explica Andrea Menapace, Director Executivo do CILD e Directora do Open Migration. “Por exemplo, algo que poderia relacionar eventos na Europa ao que estava a acontecer nos países de origem dos refugiados, ou o foco claro nos efeitos a longo-termo da migração nos países de destino, ou uma atenção mais capaz da geopolítica no Médio Oriente. Explicar modelos de coabitação e políticas migratórias europeias também estavam em falta”, disse.
O Open Migration publica artigos bilingue baseados em jornalismo de dados e em factos
O Open Migration publica artigos (em italiano e em inglês) e análises baseadas em jornalismo de dados e presta uma atenção cuidada à verificação de factos. Um claro exemplo desta abordagem é a recente investigação do número de estrangeiros actualmente em vigilância nas prisões europeias.
A recente análise do EJO sobre a cobertura da crise dos refugiados na Europa mostrou a forma como a atenção dos media tem sido largamente influenciada por eventos isolados e falhou ao providenciar uma clara e ampla visão do fenómeno migratório: “apesar de as imagens dramáticas disponíveis desde o início de 2015, penso que muitas redacções foram tomadas de surpresa pela crise dos refugiados e, consequentemente, uma abordagem sensacionalista acabou por prevalecer, diz Menapace. “Depois, a atenção dos media fundamentalmente nas chegadas e nas tragédias que ocorriam nas costas italiana e grega”.
“A cobertura do crime local (ligando-o à crise dos refugiados” – verdadeira ou não – também ajudou a construir a narrativa de que a crise tem sido uma “invasão selvagem”. Muitos media e TV adoraram a ideia”, diz Menapace.
Uma ferramenta para redações e jornalistas com poucos recursos
É suposto o Open Migration ser uma ferramenta exploratória, disponível às audiências e também às redacções, que muitas vezes não dispõem de recursos suficientes para fazer pesquisa e análises aprofundadas das várias matérias.
Por exemplo, o site oferece um dashboard em tempo real que mostra dados oficiais do UNHCR sobre as chegadas dos refugiados à Europa. Os dados são dispostos por gráfico e infografias, por forma a tornarem a leitura mais facilitada.
O Open Migration trabalha num campo híbrido onde o jornalismo e as ONGs frequentemente se cruzam. Menapace tem uma ideia clara sobre isto: “nós consideramo-nos como tendo iniciativa jornalística no que respeita aos nossos métodos e uma iniciativa de defesa como objectivo final.
A equipa do Open Migration é sobretudo construída por jornalistas e está disposta a trabalhar com outras redacções e outros media, na esperança de desbravar ainda mais o tema da crise dos refugiados ou para iniciar uma investigação orientada por dados.
“Isto é fundamental para nós”, explica-nos Menapace. “Nós podemos oferecer maiores sinergias e contribuir para um nível maior de entendimento destas matérias às redacções cada vez mais asfixiadas, que, mesmo tendo um grande número de excelentes jornalistas, não conseguem suportar um foco tão comprometido com uma única temática”
O Open Migration é apoiado pelo Open Society Foundation e está disponível aqui.
Este artigo foi publicado originalmente pelo Corriere del Ticino, em 2 de fevereiro de 2016.