A Rede para o Jornalismo de Investigação na Europa de Leste, a “n-ost”, lançou recentemente o projecto “n-vestigate”. Fundada pelo Ministro de Cooperação Económica e Desenvolvimento, a rede conta com jornalistas oriundos da Arménia, Geórgia, Moldávia, Ucrânia e Rússia e a União Europeia, que passam a trabalhar em matéria de investigação de forma conjunta e transnacional. Numa entrevista à repórter do EJO, Susann Eberlein, a Coordenadora do Projecto, Annika Gläser, fala sobre os objectivos desta rede recentemente criada, sobre os possíveis temas e sobre a possibilidade de iniciar discursos sociais.
A rede “n-ost” dedica-se a melhorar a área da reportagem sobre a Europa de Leste desde 2006. Assim sendo, o que existe de novo no projecto “n-vestigate”?
O jornalismo de investigação está fragilmente estabelecido nos países que participam neste projecto. Nós juntamos jornalistas de investigação locais com colegas de outros países, tal como com advogados da área dos Media, com decisores da esfera política e da sociedade civil e com activistas de “open data”. Além disso, apercebemo-nos, em projectos anteriores, que existe uma discrepância entre a Liberdade de Informação no papel e a sua real implementação em muitos dos países. O projecto “n-vestigate” pode ser uma resposta a esta constatação. Trabalhamos em conjunto com quatro organizações sem fins lucrativos: a “Regional Press Development Institute” (Ucrânia), a “RISE Moldova” (Moldávia), a “Hetq” (Arménia) e a “Liberali” (Geórgia). Juntos, promovemos investigação transnacional, que será posteriormente publicada.
Já estão a trabalhar algumas questões concretas?
Sim. Para nós é importante não apenas trabalhar com tópicos óbvios, como o tráfico ou a corrupção. Até assuntos sociais, como a Educação ou o Sistema Nacional de Saúde, são interessantes. Penso, por exemplo, na fraude de medicamentos ou o tráfico animal, onde animais considerados em risco são vendidos por África à Ucrânia ou à Arménia – para simples satisfação privada de pessoas ricas.
Quando serão publicados os resultados finais?
Por um lado, os resultados serão colocados na plataforma do “n-ost”; por outro, serão publicados nos Media dos jornalistas participantes (do projecto). Simultaneamente, planeamos integrar um parceiro mediático forte. Ainda que tenhamos um jornalista televisivo na nossa equipa, primeiramente são criadas as contribuições para impressão e para publicação online. Mas é nosso objectivo trabalhar com com vários Meios de Comunicação, de futuro. Com campanhas desenhadas para as narrativas, pretendemos assegurar que os resultados da investigação não desvaneçam após a sua publicação, sem gerar consequências concretas.
Como será isso feito?
Envolvemos não apenas jornalistas. Na rede, temos aliados de outras esferas da sociedade: juristas da área dos Media, activistas, assessores políticos, reitores de universidades, todos estão comprometidos com a criação de uma auscultação sócio-política mais alargada quanto ao jornalismo de investigação.
Actualmente, como descreve o jornalismo de investigação na Europa de Leste?
Cada país tem a sua própria história. Na Arménia, só existe um Meio que trabalha em jornalismo de investigação. Os jornalistas locais são expostos à repressão, por vezes, e em casos mais extremos, até a ameaças físicas. Na Geórgia, no início do milénio, o cenário de investigação estava bastante desenvolvido. Depois da revolução para Misha Saakashvili, o trabalho dos jornalistas foi fortemente reprimido, pelo que já não existe uma tradição com a qual os jornalistas possam identificar-se.
O projecto envolve formação?
Este projecto é principalmente destinado a jornalistas que já detenham experiência em investigação e que se encontram a um bom nível. No entanto, existirão pequenos workshops. Posteriormente, os membros deverão, eles mesmos, transformar-se em formadores e transmitir a sua experiência, de modo a que a rede “n-vestigate” possa criar um real efeito na sociedade.
Na Alemanha, já existe uma rede que lida com o jornalismo de investigação, a “Corrective”, assim como uma plataforma para a investigação transnacional, a “Hostwriter”. O que faz a “n-vestigate” de diferente?
Existem, de facto, vários projectos a trabalhar num contexto similar. Vemo-nos não enquanto competidores, mas como suplemento. Assentamos num efeito qualitativo das nossas estórias, que pesquisamos e publicamos de forma sustentada. Até integramos os nossos colegas da “Corrective”, do Projecto OCCRP (Projecto de Análise do Crime Organizado e Corrupção), etc., em lugares de peso considerável. A sua investigação foi apresentada na conferência de abertura do nosso projecto.
Artigo em Alemão
(Tradução para português feita a partir da tradução para inglês realizada pela autora)
Imagem: duncan c/Flickr