Subscrições são prioridade dos media para 2019

Janeiro 10, 2019 • Jornalismo digital, Negócio, Top stories • by

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Foto: Pixabay (CC)

Os meios de comunicação social estão apostados em melhorar os programas de fidelização e incrementar o número de subscritores digitais como forma de equilibrar o seu modelo de negócio. Esta é a principal conclusão de um estudo realizado pelo Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford, junto de mais de 200 editores, gestores e diretores digitais em 29 países. O estudo, intitulado Journalism, Media and Technology, Trends and Predictions 2019, indica ainda que o Facebook está a perder importância junto dos media, com mais de metade dos inquiridos a afirmar a intenção de olhar com mais atenção para outros canais em 2019. De destacar ainda o facto de grande parte dos responsáveis inquiridos esperarem ter em 2019 ajuda financeira por parte associações sem fins lucrativos (43%) e de plataformas como a Google ou o Facebook (18%).

Para Nic Newman, responsável pelo estudo, 2019 “será o ano em qua as plataformas irão começar a sentir a pressão da regulação, na sequência das preocupações que estas suscitam em relação à desinformação, à privacidade e ao domínio que exercem no mercado. De qualquer modo, é certo que a difusão de conteúdos extremistas, falsos e enganadores irá continuar a pôr em causa a democracia em vários pontos do mundo, com as eleição na Índia, na Indonésia e na Europa como principais focos de atenção este ano”.

O estudo “Journalism, Media and Technology, Trends and Predictions 2019” foi realizado em Dezembro de 2018 e inquiriu 200 profissionais em posições de topo em meios de comunicação social, com responsabilidade pela área digital. Na sua maior parte, trata-se de inquiridos que são editores, administradores, diretores da área digital ou diretores de multimédia. Ao todo, são 29 os que países estão representados neste estudo, a maioria dos quais da Europa.

Aposta nas subscrições

Mais de metade dos dos inquiridos (52%) afirmou que as subscrições e os planos de fidelização de leitores serão a sua principal prioridade em 2019. Comparativamente, apenas 29% afirmam a intenção de manter o foco na publicidade tradicional em 2019, enquanto 8% escolhem como prioritária a publicidade nativa e 7% vão apostar nos donativos dos consumidores.

fontes de rendimento para os media

Q5. Qual das seguintes fontes de rendimento será a MAIS importante para a sua empresa em 2019? N=154

Fontes de rendimentos dos media 2

Q4. Qual das seguintes fontes de rendimento são importantes ou muito importantes para a sua empresa em 2019? N=169

Neste sentido, um número significativo de publicações de relevo anunciou recentemente novos programas de subscrição e fidelização, e algumas start-ups jornalísticas sustentadas pelos utilizadores, como a Tortoise Media e a versão em inglês do De Correspondent, também vão iniciar as suas operações em 2019. Mas Newman deixa um alerta a quem quer apostar nesta área: “A nossa pesquisa sugere que apenas um grupo limitado de pessoas está disposto a pagar por notícias, nos vários países. O que significa que haverá cada vez mais meios a disputar o mesmo grupo de potenciais utilizadores e, portanto, apenas aqueles que conseguirem sustentadamente oferecer valor a esses utilizadores terão possibilidade de sucesso.”

Por outro lado, este estudo também indica que, no reverso da medalha, a existência de cada vez mais barreiras para aceder aos conteúdos pode levar à frustração e ao afastamento dos utilizadores ou, em alternativa, ao aumento da utilização de soluções informáticas destinadas a contornar as paywalls.

Facebook em baixa

A edição de 2019 traz como novidade um certo afastamento entre os media e o Facebook. A maioria dos inquiridos revelou a intenção de diversificar a sua presença nas redes sociais, deslocando recursos do Facebook para outras plataformas. A Google continua a ser uma prioridade para a maioria dos editores, com 87% a afirmarem que esse canal será muito ou extremamente importante, mas muitos deles voltam a olhar para o YouTube, o Instagram ou o Twitter como forma de chegar a novas audiências. O serviço Apple News é agora tão importante como o Facebook (43%), sendo que vários editores reportam grandes incrementos de tráfego nesta plataforma, embora as questões relacionadas com a monetização continuem a ser um problema.

plataforms for news

Q1 Quão importantes para a sua empresa espera que sejam as seguintes plataformas em 2019? N=199

Mais de metade dos participantes neste estudo considerou pelo menos uma das redes pertencentes ao Facebook (Facebook, Instagram ou WhatApp) como muito ou extremamente importante. Mas, em comparação, nove em cada dez (90%) destacam a pesquisa Google ou o YouTube. Os inquiridos ligados aos projetos de media que apostam em modelos de subscrição estão entre aqueles que mais tendem a apostar no Google.

Ajudas aos media são bem vindas

Noutro contexto, parece existir uma aceitação crescente por parte dos responsáveis pelos meios de comunicação social da ideia de que certos tipos de trabalho jornalístico de qualidade poderão ter que ser subsidiados. Assim, cerca de um terço dos inquiridos (29%) espera receber ajuda significativa por parte de fundações e associação sem fins lucrativos. Cerca de um quinto (18%) espera que sejam as plataformas a contribuir financeiramente para a sustentação do jornalismo e 11% acreditam que devia ser o governo a disponibilizar esse suporte. Nessa linha de apoio por parte dos governos, o executivo canadiano anunciou recentemente um pacote de medidas para apoiar o depauperado setor dos media naquele país e, no Reino Unido, a Cairncross Review deverá sugerir em breve medidas para ajudar a sustentar o jornalismo. Ainda assim, cerca de 29% dos responsáveis dos meios de comunicação social inquiridos não espera qualquer ajuda proveniente nas entidades referidas.

ajudas ao jornalismo

Q10 Quem acha que poderá ajudar o jornalismo em 2019? N=195

 

Aposta no áudio

Com o lançamento de cada vez mais projetos na área dos podcasts noticiosos, não é de surpreender que a maior parte dos inquiridos neste estudo (74%) considere que o áudio terá um peso maior nos seus conteúdos e nas suas estratégias comerciais em 2019. Por outro lado, uma percentagem semelhante (77%) também acredita que os dispositivos ativados por voz, como o Amazon Alexa e o Google Assistant, terão um impacto significativo na forma como as audiências acederão às notícias nos próximos anos.

Neste contexto, Stefan Ottlitz, director de produto do Der Spiegel, afirmou estar “surpreendido com o potencial do áudio e dos comandos por voz, para o jornalismo. Os utilizadores irão consumir cada vez mais notícias através da fala e da audição, e menos através da escrita. E nós, nos media, temos que estar preparados para lidar com essas alterações nas expectativas dos utilizadores”, concluiu.

Outros destaques do estudo

  • Os inquiridos neste estudo acreditam que os consumidores de notícias estão cada vez mais conscientes do “tempo perdido” que gastam nas redes sociais, sendo crescente o número de pessoas que admite deixar de as utilizar, colocando a ênfase em conteúdos de maior qualidade. Por outro lado, os inquiridos também apontam o seu foco para indicadores de confiança nas notícias que permitam aos utilizadores decidir em quem confiar. No entanto, parece evidente que o problema da desinformação vai continuar, transferindo-se para redes e grupos fechados, onde é mais difícil de combater.
  • Cerca de dois terços dos inquiridos (61%) estão preocupados ou muito preocupados com o cansaço e esgotamento dos seus colaboradores. Conseguir contratar (74%) e manter (73%) os colaboradores está-se a tornar cada vez mais difícil, face dos salários reduzidos, o ritmo de trabalho e as pressões que existem numa redação.
  • Cerca de três quartos do inquiridos (78%) considera que é importante investir em inteligência artificial para assegurar o futuro do jornalismo, mas não vê esta tecnologia como uma alternativa aos editores humanos. Pelo contrário, a maior parte dos inquiridos (73%), olha para o reforço da personalização como um elemento crítico para o futuro do jornalismo.
  • Os inquiridos acreditam que tenderá a haver mais iniciativas jornalísticas com o objetivo de criar pontes entre fações políticas, estimulando o entendimento mútuo em face de temas polarizadores. Do mesmo modo, é expectável que surjam novos algoritmos programados para expôr diferentes perspetivas de uma mesma questão polarizadora.
  • Por fim, os formatos noticiosos mobile, popularizados pelo Snapchat e pelo Instagram, tenderão a ganhar ainda maior popularidade em 2019, assim como os vídeos, quer curtos quer longos, distribuídos através das redes sociais.

Para Nic Newman, jornalista, investigador e autor do estudo “Journalism, Media and Technology, Trends and Predictions 2019”, este será “um ano crítico para as plataformas e os editores reconstruirem a confiança e a credibilidade depois de anos de problemas e polémicas relacionadas com a qualidade, a privacidade e a experiência dos utilizadores. As soluções para esses problemas precisam de colocar o utilizador em primeiro lugar e devem ter uma visão de longo prazo.

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