Onde estão as mulheres jornalistas nos media europeus?

Maio 15, 2018 • Investigação, Top stories • by

A cobertura de notícias na Europa é dominada por jornalistas e comentadores do sexo masculino, que passam grande parte do tempo a escrever sobre outros homens, revela um novo estudo sobre os jornais impressos e online, levado a cabo pelo European Journalism Observatory (EJO).

A supremacia dos homens em moldar e cobrir a agenda noticiosa do continente persiste. Apesar do facto de, em muitos dos 11 países que fazem parte do estudo, as mulheres representarem cerca de metade do número de jornalistas e de haver mais mulheres que homens a escolher o jornalismo como carreira.

Jornalismo Europeu “é uma coisa” de homens

Os investigadores, que analisaram as assinaturas dos jornalistas e as imagens que acompanham as histórias, concluíram que em quase todos os países, tanto nod jornais impressos como nos digitais, os homens escreviam a maior parte do conteúdo nas seções de notícias, negócios e comentários. No total dos 11 países onde foi feita a análise, os homens escreveram 41% das histórias, em comparação com apenas 23% escritos por mulheres, enquanto quase metade de todas as imagens (43%) que foram publicadas eram apenas de homens, comparados com apenas 15% de mulheres. Os restantes artigos ou não tinham autor explícito ou provinham de uma agência noticiosa.

O estudo descobriu que o desequilíbrio de género era geralmente mais óbvio nos média impressos tradicionais. Em geral, os órgãos de comunicação social online eram mais equilibrados, embora na sua maioria também favorecesse os autores masculinos e as fotografias de homens. Nalguns países e órgãos de comunicação social foram publicados mais artigos de agências noticiosas (sem autor especificado) do que por jornalistas mulheres.

Os países que demonstraram maior desequilíbrio entre géneros foram a Itália e a Alemanha. Na Alemanha, 58% dos artigos tinham como autores jornalistas do sexo masculino e apenas 16% do sexo feminino, enquanto na Itália, 63% (a maior percentagem entre os 11 países) pertenciam a homens e apenas 21% a mulheres.

A Ucrânia foi o país onde as fotografias que mostram homens foi o mais elevado, com 49% das fotos a apresentarem apenas homens, em comparação com 10% que representavam apenas mulheres.

Entre os países estudados, única exceção à supremacia masculina foi Portugal, em que a autoria de artigos escritos por mulheres foi mais femininas frequente (31%) que os escritos por homens (20%). Mas mesmo aqui, o uso de fotografias de homens (49%) superou, em muito, o de mulheres (12%).

O estudo, conduzido pelo Observatório Europeu de Jornalismo (EJO), baseou-se na análise das seções de notícias, comentários e negócios de dois jornais impressas e dois jornais digitais de cada país nos mesmos dois dias da semana durante quatro semanas, entre janeiro e fevereiro deste ano. Os países analisados foram a Alemanha,Espanha, Itália, Letónia, Polónia, Portugal,Reino Unido,República Checa, Roménia, Suíça e Ucrânia.

Com o objetivo de conseguir uniformidade, foram analisadas apenas as primeiras 15 páginas de cada jornal impresso, uma vez que elas normalmente apresentam os assuntos mais importantes. No caso dos jornais digitais foram analisadas as primeiras 20 reportagens das homepages nas editorias de notícias, política e negócios. Temas como saúde, artes, lifestyle e moda, foram omitidas, assim como as seções de desporto.

“Estas empresas devem desafiar seu próprio modo de pensar”

Os resultados da análise causaram alguma consternação entre jornalistas Europeias, algumas das quais culparam o desequilíbrio na duradoura cultura presente nas redações, que muitas vezes é machista, ambiciosa e exigente, particularmente no que respeita as longas horas de trabalho que transformam muitas vezes o jornalismo num trabalho anti-social e anti-familiar.

A professora Suzanne Franks, chefe do Departamento de Jornalismo da City University de Londres e autora de vários projetos de pesquisa sobre mulheres no jornalismo, disse que o relatório destacou as desigualdades de longa data dentro da profissão.

“É excelente termos aqui um estudo abrangente que compara as disparidades de género em tantos países. O que não é tão bom é a persistência dessas mesmas disparidades entre quem está a ser publicado e também quem está a ser apresentado nas imagens de notícias. Esperamos que, ao destacar mais uma vez esses preconceitos de género no jornalismo, vejamos esforços conjuntos para que as coisas mudem”.

Susanne Klingner, uma jornalista alemã com mais de dez anos de experiência no campo da igualdade de género, incluindo o desenvolvimento da Plano W, uma revista de negócios para mulheres do Sueddeutsche Zeitung, disse não ter ficado surpreendida que a Alemanha se tenha saído tão mal no estudo. “Em todos os estudos da OCDE, a Alemanha está na parte inferior da escala em relação ao equilíbrio de género”, disse ela. “Eu gostaria de dizer que esses maus resultados têm a ver com a seleção feita pelos órgãos de comunicação social, uma vez que não há jornais progressivos como o SZ ou o DIE ZEIT no estudo, mas temo que as não tenham mudado assim tanto”, disse Klingner. O equilíbrio entre géneros ainda não é um imperativo comercial na Alemanha, apesar das tentativas de jornais como o DIE ZEIT para melhorar a relação entre o pessoal masculino e feminino, “95% dos jornais alemães são liderados por homens.”

“Já vi isto demasiadas vezes. Os jovens que começam dentro de uma organização noticiosa não são julgados pelo seu desempenho, mas sim pelos sentimentos e os antigos os velhos editores brancos do sexo masculino (outra falta de diversidade na Alemanha) sentem-se mais próximos dos jovens homens brancos. Eles revêem-se neles e promovem-nos. Muitas mulheres jovens permanecem invisíveis, não importa o quão talentosas sejam. Simplesmente não têm o mesmo número de defensores na empresa. No momento em que houver mulheres suficientes em papéis de liderança, isso mudará … As empresas noticiosas estão em processo de falência porque pensam que ser progressista significa apenas reportar progressivamente, mas não necessariamente ser uma empresa progressista … e as empresas conservadoras não se importam.”

“Estas empresas devem desafiar seu próprio modo de pensar”, acrescentou Klingner.

Os países analisados: Alemanha,Espanha, Itália, Letónia, Polónia, Portugal,Reino Unido,República Checa, Roménia, Suíça e Ucrânia

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País a país

 

1. Alemanha
A cobertura de notícias em alemão é, em grande parte, “uma coisa” de homens. No geral, considerando os quatro órgãos de comunicação social estudados, 58% dos textos foram escritos por homens e apenas 16% por mulheres, enquanto 43% das fotografias publicadas eram de homens e apenas 22% de mulheres. Isto num país que tem como chanceler uma mulher e outra mulher acaba de ser eleita líder dos sociais-democratas.

No FAZ, historicamente um jornal conservador dominado por homens e com uma baixa rotatividade de pessoal, 81% das histórias eram de jornalistas do sexo masculino e apenas 13% de mulheres. A maioria sobre economia e política eram assinadas por homens, com algumas exceções; as mulheres escreviam sobretudo sobre artes e cultura. Quanto às fotografias a situação era praticamente a mesma: 38% eram de apenas homens, comparados a 14% de mulheres.

No jornal alemão Faz, 81% dos artigos foram escritos por homens e 38% das imagens eram apenas de homens (comparado a 14% das mulheres).

No BILD, o maior tablóide (conservador) do país, havia uma distribuição ligeiramente mais uniforme, mas ainda assim fortemente inclinada em relação aos homens (39% homens versus 14% mulheres), embora as fotos de mulheres se concentrassem mais frequentemente em contextos sexualizados, como mulheres de biquíni ou namoradas ou esposas de atletas ou atores famosos.

O Bento, um site de notícias voltado para um público mais jovem e mais liberal e que apresenta frequentemente tópicos como “género”, “direitos das mulheres” e “racismo”, foi o que obteve melhores resultados no que respeita a igualdade. os artigos escritos por mulheres perfizeram 38% de suas histórias, em comparação com 58% masculinos. As fotografias de mulheres representaram 27% do total, contra 36% de homens.

O segundo jornal oonline examinada, o T-online, não obteve tão bons resultados. Os artigos escritos por mulheres foram apenas 5% do total, contra 27% dos homens, enquanto as fotografias foram 46% de homens e 23% de mulheres. O resto do conteúdos provinha de materiais de agência, sem autor atribuído.

2. Espanha
Os homens dominam o panorama dos média espanhóis, apesar de mais da metade dos jornalistas do país serem mulheres. No total, 39% dos artigos analisados foram escritos por jornalistas do sexo masculino, contra 21% das mulheres. Em alguns dos dias estudados, mais de 80% dos artigos em um ou mais jornais foram escritos por homens.

O uso de fotos também foi com tendência maioritária para o masculino, 45% apresentaram apenas homens, em comparação com 21% que apresentaram mulheres. Nas edições impressas dos jornais El Mundo e El País, uma diferença clara no tamanho da foto era perceptível; quando as mulheres políticas (por exemplo, o vice-presidente Saenz de Santamaría ou Angela Merkel) foram apresentadas, as suas fotos tendiam a ser menores do que quando um político masculino era retratado.

O El País foi o jornal em termos de preconceito 65% homens dos artigos foram escritos por homens versus 28% por mulheres, enquanto o HuffPost foi o melhor (13% homens versus 8% mulheres). O HuffPost também se destacou por ter um grande número de artigos escritos por equipas mistas.

3. Itália
Os dados italianos mostram uma grande maioria de autores e fotos masculinos em toda a amostra. Os quatro jornais analisados apresentaram mais autores masculinos e publicaram mais imagens masculinas em cada um dos dias analisados, tanto online como impressos. De um total de 594 assinaturas, 373 (63%) eram do sexo masculino e 123 (21%) do sexo feminino, enquanto os restantes 98 eram divididos por “outros” e “agências”. Em termos de fotos, 42% eram homens e apenas 12% de mulheres.

Apenas 4% das fotografias no La Repubblica, o jornal de centro-esquerda, eram de mulheres, enquanto 33% eram de homens. 68% dos seus artigos eram da autoria de homens e apenas 28% de mulheres.

Outro jornal analisado, o liberal-centrista Corriere della Sera, não era muito melhor: a autoria favorecia os homens em 74% para 23% e as fotografias em 43% a 16%.

Os dois órgãos de comunicação social digitais, Linkiesta.it e HuffPost.it, também não estão muito bem posicionados na representação de mulheres nas notícias. No Linkiesta de 67% dos artigos são da autorias de homens enquanto 15% são de mulheres. Já no HuffPost a percentagem foi de 35% para o sexo masculino e 16% do sexo feminino. O respectivo desempenho fotográfico também foi também fortemente orientado para o sexo masculino: 46% a 13% e 42% a 11%.

4. Letónia
Na Letónia, o jornalismo tem sido historicamente uma ocupação dominada por mulheres, mas apenas 13% de da autoria dos artigos dos quatro órgãos de comunicação social analisados – Latvijas Avize, Segodna, Delfi, Tvnet – pertenciam a mulheres, enquanto 32% dos artigos eram de homens.

Mesmo assim, um número considerável de artigos (54%) não dava uma pista clara sobre quem escrevia, porque 30% eram peças sem nome ou pertenciam a agências noticiosas internacionais ou nacionais (24%). Menos de 10% das fotos apresentavam mulheres, em comparação com 44% dos homens.

No Segodna, um jornal de língua russo estilo tablóide, 85% dos artigos foram escritos por homens e apenas 14% por mulheres. O Latvijas Avize, um jornal de qualidade, foi melhor, com uma proporção de 34% de homens para 18% de mulheres. Os mais equilibrados foram: o Delfi, a fonte de notícias online mais popular do país, que demonstrou um viés raro a favor das mulheres: apenas 6% dos seus artigos eram de homens e 19% de mulheres (mas o maior número de artigos era proveniente de agências, representando 33% das histórias no site).

O segundo site de notícias digitais – a Tvnet, um órgão de comunicação social tipo tablóide – apresentava muito poucos artigos.

Todos os média apresentavam um forte viés em relação à publicação de fotografias de homens: nenhum deles tinha mais de 11% das suas fotos com mulheres.

5. Polónia
Uma número significativo de notícias, em todos os meios de comunicação, foi criado por jornalistas do sexo masculino (37%), contra 24% por jornalistas do sexo feminino. Curiosamente, o número de notícias anónimas (35% do conteúdo notícioso) excedeu o número de notícias criadas por jornalistas do sexo feminino.

O site noticioso Wp.pl foi que apresentou o melhor resultado: 40% de suas histórias foram criadas por jornalistas do sexo feminino, em comparação com 58% por homens.

O segundo melhor foi o jornal Gazeta Wyborcza, com 55% do conteúdo criado por homens e 33% por mulheres. No entanto, este números serão, possivelmente, uma decepção para o Gazeta, uma vez que é o único meio, de esquerda da polónia, abertamente pró igualdade de género. Nos oito dias de pesquisa, apenas um dos jornais apresentou um número de histórias criadas por mulheres mais elevado que o número criado por homens (por 10 a oito).

O outro jornal digital, o Onet.pl, não esteve bem. No total, o conteúdo criado por mulheres representou 16%, enquanto os homens representaram 27%, com a maioria (56%) de conteúdo proveniente de agências ou outros médias, mas sem assinatura.

O Fakt (RASP), tablóide com a maior circulação entre os diários, demonstrou uma abordagem mais equilibrada, com 10% de suas histórias escritas por homens e 9% por mulheres. No entanto, 80% de suas histórias não apresentavam autor ou eram de agências.

Não houve um único dia durante a pesquisa, em que o número de fotos que retratassem mulheres excedesse o número de fotos que retratam homens. No geral, 39% das fotos eram de homens e apenas 14% de mulheres. Nalgumas ocasiões, até as histórias evidentemente sobre mulheres (por exemplo, entrevistas a membros femininos do parlamento) foram ilustradas com fotos que retratavam homens que eram apenas mencionados nos artigos.

6. Portugal
Portugal a excepção entre os meios de comunicação social da Europa: o número de artigos escrito por mulheres nos meios de comunicação analisados (Público, Correio da Manhã, Observador e Notícias ao Minuto) ​​foi de 30%, em comparação com 20% por homens.

A supremacia feminina foi ainda maior nos jornais impressos, com as mulheres a escrever 37% das notícias contra 18% escritas por homens.

Os conteúdos das agências de notícias dominaram os meios online, especialmente no caso do Notícias ao Minuto, onde quase metade das notícias vieram de agências (principalmente a LUSA, a agência noticiosa portuguesa). Aqui, a autoria dos artigos era mais equilibrada: 22% para homens e 24% para mulheres.

Não é claro porque em Portugal, entre todos os países analisados haja mais mulheres a assinar artigos. Um estudo recente mostrou que 52% dos jornalistas portugueses são homens e 48% são mulheres.

O mesmo estudo revelou que os jornalistas do sexo masculino tendiam a receber mais que as mulheres, deixando mais mulheres menos satisfeitas com seus salários do que os homens (37% das mulheres disseram estar muito insatisfeitas com 30% dos homens dizendo o mesmo). Estas disparidades salariais persistem, apesar de 54% das mulheres jornalistas em Portugal possuírem um curso universitário contra 34% dos homens.

O facto de haver mais trabalhos assinados por mulheres poderia sugerir que os homens ocupam lugares mais altos na hierarquia, no papel de diretores, editores ou outros, e, portanto, escrevem menos histórias ou nenhuma. A confirmar esta teoria pode citar-te um facto: no Congresso dos Jornalistas que teve lugar o ano passado, num painel composto pelos diretores dos principais meios de comunicação social, entre 19 pessoas, apenas duas eram mulheres.

7. Reino Unido
No Reino Unido foram analisados quatro jornais, dois impressos: The Daily Telegraph, uma revista de qualidade, The Sun, um tablóide, e dois jornais online, as edições britânicas do Buzzfeed e do International Business Times.

Das edições impressas estudadas, The Sun foi dominado por repórteres masculinos (40%) – as mulheres escreveram apenas 12% dos artigos durante o período estudado. Isso refletiu-se no conteúdo, conforme indicado pelas fotografias editoriais nas páginas de notícias. Embora houvesse uma proporção relativamente alta de mulheres que apareciam em fotografias (35% em comparação com 43% dos homens), elas apareciam predominantemente com pouca roupa ou, ocasionalmente, a serem criticadas por aparecer sem maquilhagem. O Sun é conhecido – e não problemas com isso – pelas suas reveladoras fotos, de mulheres, da “Página Três”.

O Telegraph apresentou um maior número de artigos escritos por mulheres (33,5%) que por homens (28%). Além disso, durante o período estudado, pareceu ter uma postura forte em relação à igualdade de género par com as suas jornalistas, criticando a BBC pela sua disparidade salarial entre homens e mulheres, uma história que se veio a lume em fevereiro deste ano. No entanto, a 28 de março, algumas semanas após o término da análise de conteúdo da EJO, o Telegraph revelou que a sua diferença salarial entre homens e mulheres era a mais alta que a de qualquer jornal ou emissora do Reino Unido, naquele momento.

As mulheres que trabalham no Telegraph Media Group (TMG) são pagas 35% menos que os homens, em média, a maior diferença salarial entre os género de qualquer empresa de media do Reino Unido, até ao momento, segundo números oficiais do próprio Telegraph.

Kate McCann, correspondente sénior do Telegraph, reage no Twitter à notícia de que as mulheres recebem 35% menos do que os homens na mesma função.

Nick Hugh, executivo-chefe do Telegraph Media Group, disse recentemente que a diferença salarial era inaceitável e comprometeu-se a acabar com a lacuna até 2025. Hugh disse que a empresa apresentaria uma lista de 50:50 para todas as posições vagas e faria mais para promover as mulheres de forma a poderem chegar aos melhores cargos.

“Estamos a ir na direção certa, mas temos ainda muito a fazer”, disse Hugh num comunicado no site da empresa. “A partir de abril de 2017, nosso relatório de remuneração de género mostra uma lacuna inaceitável entre a remuneração média dos homens em comparação com as mulheres. A principal razão para isso tem sido a falta de representação feminina nos níveis mais altos, algo que já começamos a abordar ”.

O Buzzfeed e o International Business Times (IBT) foram os dois sites de notícias digitais escolhidos. Ambos são órgãos de comunicação social internacionais, mas estão entre os poucos sites de notícias do Reino Unido a oferecer conteúdo suficiente para o estudo de 20 artigos, comentários e notícias sobre negócios, por dia. Dos dois, o Buzzfeed tinha mais mulheres a assinar artigos (51%) do que homens (44%).

O IBT era muito dominado pelos homens – 68,5% dos artigos eram de jornalistas masculinos e 24% de mulheres. Logo após a conclusão do estudo, o IBT despediu muitos dos seus funcionários em Londres.

De acordo com o UCAS, a entidade responsável pela admissão dos alunos às universidades do Reino Unido, mais mulheres a frequentaram escolas de jornalismo, a tempo inteiro, do que os homens, entre 2007 e 2014. Os mesmos números da UCAS também revelam que, apesar do maior número de candidaturas de mulheres a cursos de jornalismo os homens eram mais propensos a serem aceites nestes cursos.

Embora haja uma proporção relativamente alta de mulheres na profissão (45% dos jornalistas do Reino Unido são mulheres) um estudo do Reuters Institute / Worlds of Journalism com uma amostra de 700 jornalistas britânicos concluiu que as jornalistas do sexo feminino são “menos bem remuneradas do que os homens e sub-representadas” em altos cargos ”. Esse relatório também revelou que as jornalistas do sexo feminino têm maior probabilidade de estar no nível mais baixo da escala salarial do que os homens.

Foram escolhidos The Sun e The Telegraph porque um recente estudo do EJO se focou noutros jornais impressos do Reino Unido, embora os resultados desse estudo tenham sido muito próximos.

8. República Checa
Os jornais nacionais checos e os principais sites de notícias online são amplamente dominados por homens, com uma exceção notável. No seu conjunto, os jornalistas masculinos representaram 41% da autoria dos artigos analisados, em comparação com 19% das mulheres. Essa lacuna tornou-se ainda mais pronunciada nos artigos da área de negócios (80% dos homens) e nos artigos de comentários (90% dos homens).

Este são os números, apesar haver mais mulheres que homens em cursos de jornalismo do ensino superior; na Universidade Charles, em Praga, um dos quatro programas de jornalismo na República Checa, o número de candidatos do sexo feminino supera os do sexo masculino nos últimos cinco anos. Neste ano académico estão matriculados no curso de jornalismo 217 mulheres e 168 homens.

Apenas um site líder de notícias digitais, o Seznamzpravy.cz, resistiu à tendência. No site, lançado em 2016, foram encontrados mais artigos escritos por mulheres durante o período do estudo (53% do sexo feminino versus 40% do sexo masculino). Num dos dias estudados, o Seznamzpravy apresentou 12 artigos escritos por mulheres em comparação com cinco escritos por homens. Por outro, no mesmo dia, o Aktuane, outro site de notícias online, tinha apenas dois artigos da autoria de mulheres, mas tinha 12 escritos por homens. O MF DNES, um jornal nacional situado no centro a nível político, apresentava cinco escritos por mulheres e 12 por homens, enquanto o Pravo, jornal diário nacional considerado de esquerda, apresentava apenas três escritos por mulheres enquanto tinha 26 escritos por homens.

Quanto às fotografias analisadas havia três vezes mais fotografias de homens que de mulheres. As fotos geralmente mostravam mulheres envolvidas no dia-a-dia normal, enquanto os homens eram geralmente representados no papel de políticos ou especialistas (148 políticos do sexo masculino são 26 políticos do sexo feminino; 21 especialistas do sexo masculino e seis especialistas do sexo feminino). A representação excessiva e frequente de imagens de políticos do sexo masculino pode surgir do facto de haver um menor número de mulheres que entram na política (por exemplo, apenas 22% dos deputados checos são mulheres). Houve dias em que, nalguns dos jornais, havia 10 fotos de homens e nenhuma de mulheres. Noutras ocasiões, as principais fotos selecionadas de mulheres eram de mulheres seminuas do carnaval carioca.

9. Roménia
O Hotnews.ro, um das mais populares jornais online romenos, contrariou a tendência neste país e no resto da Europa (com exceção de Portugal) ao mostrar uma clara predisposição para favorecer jornalistas mulheres. 57% dos seus artigos foram assinados por mulheres, em comparação com 43% por homens.

O jornal de qualidade, Adevarul, também apresentou um bom desempenho, com 44% de seus artigos escritos por homens versus 38% por mulheres. Todos os artigos da seção Internacional foram escritos por mulheres jornalistas durante os dias do estudo, embora as primeiras páginas do jornal (e no outro jornal analisado, Libertatea) fossem escritas por homens. De salientar, também, que os artigos escritos pelas jornalistas do sexo feminino em ambos os jornais, Hotnews e Adevarul, eram geralmente muito mais curtos do que os escritos pelos jornalistas do sexo masculino.

Embora os outros órgãos de comunicação social tenham apresentado resultados mais tradicionais a favor dos homens (o pior desempenho foi o segundo jornal digital estudado, o stiripesurse.ro, que teve 83% dos seus artigos escritos por homens e apenas 17% por mulheres), a visão geral da autoria das notícias nod media romenos foi de 54% do sexo masculino para 36% do sexo feminino.

Em termos de uso de fotos, todos os jornais usavam muito mais fotografias de homens que de mulheres, 45% das fotos publicadas eram apenas de homens, em comparação com 16% apenas de mulheres.

 

10. Suíça
Na Suíça foram analisadas duas publicações em alemão (o jornal de qualidade Neue Zürcher Zeitung e a plataforma de notícias nativa digital Watson), bem como duas em francês (o jornal Le Temps e o site de notícias da emissora pública RTS).

Como na maior parte do resto da Europa, nos média suíços é esmagadoramente masculina quantidade artigos analisados. 38% dos artigos são escritos por homens, seguido-se os que provêm de agências (27%), enquanto as mulheres jornalistas escrevem apenas 16%.

Houve pequenas diferenças entre as línguas francesa e alemã (28% dos artigos escritos por homens e 15% por mulheres nos meios francófonos e 39% contra 14% nos meios de comunicação em língua alemã).

Nas plataformas de notícias digitais  a diferença de género foi muito menor (19% dos homens, 11% das mulheres) em comparação com os jornais impressos, em que quase metade dos artigos (48%) foram escritos por homens, enquanto as mulheres forneceram apenas cerca de 18% dos artigos.

A falta de representação feminina na produção de artigos é espelhada também no aspecto visual do conteúdo: no geral, apenas 11% das fotos mostram só mulheres, enquanto os homens foram representados em 42% das fotos. Os 47% restantes das fotos tinham ambos os sexos ou nenhum deles.

Analisando os dois tipos de média separadamente, os média online não diferem muito dos resultados gerais, já que apenas uma minoria de imagens mostrou mulheres (10%), enquanto a maioria representava ambas ou nenhuma delas (53%) ou homens (37%). Nos jornais impressos, mais da metade das imagens mostravam homens (55%), enquanto 32% representavam ambos ou nenhum dos géneros, e as mulheres também estavam um pouco mais representadas, mas ainda com uma percentagem baixa (13%).

 

11. Ucrânia
As mulheres jornalistas gozam de igualdade na Ucrânia, no que respeita a autoria de artigos, especialmente nos jornais impressos. Dos dois jornais analisados, um exibia mais artigos escritos por mulheres que por homens, enquanto no outros os números eram iguais. No Segodnya, um jornal de massas diário, os números eram de 51% a 40% a favor das mulheres, enquanto cada no diário de qualidade Den, cada género tinha assinado 37% dos artigos.

Os resultados foram diferentes para os jornais online estudados (ambos nativos digitais, e um deles um dos sites de notícias mais visitados na Ucrânia). Ambos apresentarem uma maioria de artigos escritos por homens. O Censor, um site de notícias que pode ser considerado patriótico, à luz da guerra, apresentava 24% dos artigos escritos por homens e 13% por mulheres. Na Obozrevatel, uma agência de notícias que cobre tanto assuntos sociopolíticos quanto tablóides, 29 % foi assinado por homens e 10% por mulheres.

Os resultados da análise têm de ser contextualizados. Os jornais online ucranianos geralmente não colocam o autor das notícias, pois uma quantidade considerável do conteúdo de notícioso é simplesmente reescrito de outras fontes (sites de notícias, agências de notícias, etc.). Qualquer conteúdo exclusivo fornecido pelo site tende a ser exibido com o logotipo do site, e não com os nomes dos jornalistas que o criaram. Isso pode mascarar os resultados.

Quanto às fotos elas eram particularmente centradas nos homens. No geral, 49% das fotos eram de homens sozinhos, em comparação com os 10% onde apenas se apresentavam mulheres. Assim como no que respeita a autoria de artigos/notícias, os jornais impressos são melhores que os concorrentes online. Enquanto 15% das fotos no Den e 17% das no Segodnya eram de mulheres, apenas 7% e 6% das usadas no Censor e na Obozrevatel o eram. Essa tendência pode ser parcialmente explicada pela agenda: a maioria das histórias é dedicada a personagens masculinos (políticos, empresários, soldados, etc.), enquanto que os personagens femininos são menos comuns e menos visíveis. Estas conclusões refletem a situação geral do país em que as mulheres ainda estão fortemente sub-representadas na política (apenas 12% de seus parlamentares são mulheres, embora esta seja a maior percentagem de mulheres no parlamento desde a independência em 1991).

O estudo foi levado a cabo pelo EJO com Ana Pinto Martinho, Paulina Pacula, Rachel Stern, Felix Simon, Caroline Lees, Georgia Ertz, Philip di Salvo, Līga Ozoliņa, Sandra Štefaniková, Antonia Matei, Dimitrina Jivkova Semova, Halyna Budivska and David Gerber.
Créditos da foto: Kremlin Press Office.

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