Ao longo das últimas semanas temos ouvido falar muito sobre software e apps de ad-blocking: ferramentas que permitem aos utilizadores navegar na Internet sem serem incomodados por banners, pop-ups ou outro conteúdo publicitário. O fenómeno não é novo mas o debate foi recentemente reacendido pela Apple, quando anunciou que iria permitir correr apps de ad-blocking dedicadas na última versão do seu sistema operativo móvel, iOS.
A partir de agora, os iPhones darão aos seus utilizadores a oportunidade de aceder à internet móvel sem anúncios. A transição para o iOS9 já provocou um pico nos downloads de apps de ad-blocking a partir do iTunes e as estimativas prevêm que as perdas de receitas de publicidade devido ao ad-blocking podem ascender aos 22 milhões de dólares.
Muito em breve deverá ser possível quantificar o impacto direto da adoção massiva de software ad-blocking. Um impacto que poderá resultar na renovação de outras possíveis estratégias para as receitas online, a começar pela publicidade nativa.
O problema está, sem dúvida, relacionado com a forma como as editoras têm bombardeado os leitores online com publicidade incómoda durante anos.
Mas o ad-blocking deveria ser enquadrado num contexto mais amplo, como foi sublinhado por Nilay Patel, editor-in-chief do The Verge, num artigo de opinião recente. Patel defende que a questão está relacionada com o facto de o domínio da Internet estar concentrado entre as grandes empresas de Silicon Valley. Neste contexto, defendeu Emily Bell em Julho na news:rewired, o jornalismo está em risco de se tornar num mercado inconsciente, perdendo o controlo sobre o seu próprio conteúdo e sobre as suas fronteiras.
Segundo Patel, até agora a Google tem assumido o papel principal na gestão de publicidade online, graças à plataforma DoubleClick for Publishers, que fornece anúncios a portais noticiosos online, e ao programa AdX, que fornece anúncios programáticos.
Como é do conhecimento geral, uma grande parte das receitas da Google provêm da publicidade. Ao impulsionar ainda mais o ad-blocking no seu ambiente móvel, a Apple está a declarar guerra à Google no seu mercado móvel – um palco de valor crescente para o consumo e para a publicidade nos media.
Notavelmente, a Apple revelou a sua aposta no ad-blocking imediatamente após o lançamento da Apple News, a sua app proprietária para o consumo de notícias que vem acompanhado de acordos de partilha de publicidade com as editoras. Com o Apple News, os utilizadores de iPhone têm a promessa de uma melhor experiência no consumo de artigos e os editores têm prevista a oportunidade de chegar a uma base de utilizadores massiva. Existe claramente uma ligação entre a Apple News e o ad-blocking.
A Apple quer entrar no mercado das notícias móveis para introduzir um novo standard de publicação móvel que também é efetivo na perspetiva da publicidade. Uma estratégia que assenta na ideia de que os anúncios baseados em banner são menos efetivos em browsers móveis porque não são visualizados corretamente. A mensagem dirigida aos editores parece clara: se quer chegar aos utilizadores do iPhone e garantir uma publicidade efetiva junte-se à Apple News.
Os editores que assinam acordo com a Apple – ou com o Facebook, Google ou outras tecnológicas – podem beneficiar destes programas no curto prazo, tanto ao nível da experiência de leitura como na eficácia da publicidade. Mas no longo prazo, o impacto no jornalismo em geral pode vir a ser muito mais sistemático. Quando o Facebook introduziu recentemente o seu programa Instant Articles orientado ao jornalismo, a luta entre os gigantes da Internet – e as suas plataformas – ficou ainda mais acesa. Em breve, esta poderá transformar-se numa batalha conduzida sobre o jornalismo e, mais genericamente, sobre a web.
Artigos publicados originalmente em italiano e traduzidos pelo autor para inglês. A versão em português foi traduzida do inglês.
Créditos das imagens: LoKan Sardari / Flickr CC
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