O jornalismo tornou-se demasiado obcecado com as inovações tecnológicas e deve voltar a focar a sua atenção no envolvimento das audiências, nas narrativas e nos modelos de negócio. Esta é a conclusão de um estudo recente realizado pelo Reuters Institute for the Study of Journalism da Universidade de Oxford.
Este estudo é o primeiro resultado do Journalism Innovation Project, um programa de investigação, que se irá prolongar por 12 meses – sob a égide do Reuters Institute –, e que se baseia na análise dos debates que envolveram 39 inovadores na área do jornalismo, em representação de 27 editores em 17 países.
Os desafios e os obstáculos que se colocam à inovação no jornalismo
O estudo, da autoria de Julie Posetti, investigadora do RISJ, examina os desafios e os obstáculos à inovação sentidos pelas empresas de media tradicionais e também por aquelas que já nasceram na era digital. Entre as conclusões principais, destaca-se a ideia de que o jornalismo não se deve deixar seduzir pelo chamamento constante das novas tecnologias (em inglês bright, shiny things) e, em vez disso, deve focar-se em elementos-chave da atividade, como os conteúdos, o desenvolvimento dos modelos de negócio e as audiências.
Além disso, o relatório também argumenta que muito daquilo que é a inovação nos media tem vindo a focar-se excessivamente nos desafios da distribuição, deixando para trás os conteúdos e os modelos de negócio, o que pode colocar os editores na dependência de plataformas como o Facebook. Por isso, ao invés, a indústria dos media devia apostar mais em inovações sustentadas em estratégias de longo prazo.
Este relatório de Julie Posetti também conclui que as grandes marcas de media tradicionais têm a noção que é preciso “desacelerar” e pensar de uma forma mais estratégica, mas isso é mais difícil para os meios de comunicação exclusivamente digitais, uma vez que estes estão mais dependentes da inovação.
Segundo este relatório, os participantes consideraram que a obsessão pelas inovações está a distrair o jornalismo dos seus objetivos primordiais: ‘O síndrome das ‘coisas novas’ desvia-nos das histórias que importam e pode fazer-nos esquecer qual é afinal a nossa missão. Esse é o grande desafio que se nos coloca,’ disse Kim Bui, diretor de audiências e inovação no Arizona Republic, dos E.U.A. Francesca Donner, diretora da iniciativa de igualdade de género do New York Times concordou: ‘Precisamos desacelerar para sermos capazes de tomar decisões mais conscientes.’
Outra participante, Maria Ressa, presidente e editora executiva da start-up filipina Rappler.com, alertou para a excessiva dependência das plataformas: ‘A razão pela qual a nossa indústria parece estar carenciada do oxigénio de que precisa para funcionar é porque todo ele foi canalizado para a distribuição e nenhum para o conteúdo. Como poderemos alterar isto sem correr o risco de as plataformas nos comerem vivos? Essa é a questão’, concluiu.
Julie Posetti, a autora do relatório, comentou os resultados desta forma: ‘Este relatório demonstra que alguns quadros de topo da indústria dos media estão a acordar para os efeitos colaterais de guiar o jornalismo pelas inovações tecnológicas.’ Entre esses efeitos colaterais estão ‘o assédio que é feito online às jornalistas do sexo feminino, a desinformação que circula de forma viral e os riscos de segurança enfrentados pelos jornalistas cujas fontes são expostas online através das tecnologias digitais.’
O Journalism Innovation Project é um novo projeto do Reuters Institute, que tem como objetivo desenvolver o conhecimento daquilo que é a inovação em jornalismo, recolher e partilhar casos de boas práticas jornalísticas e desenvolver uma plataforma para cimentar e avaliar diferentes formas de inovação ao nível do jornalismo.
Encontra o estudo, na íntegra, no site do Reuters Institute for the Study of Journalism.
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