Os jornalistas inquiridos em 2016 consideram o exercício livre da sua profissão muito condicionado, em especial pela agenda, condições de trabalho, salário, conciliação com a vida pessoal e familiar e o medo de perder o emprego. Consideram-se autónomos em relação às pressões externas, mas pouco ou nada autónomos em relação às decisões das chefias ou das administrações.
Estas são as primeiras conclusões sobre os condicionalismos e autonomia profissional dos jornalistas. Os dados foram obtidos em 2016 através do maior inquérito aos jornalistas já realizado em Portugal. Respondido por quase 1500 jornalistas (validados), foi desenvolvido por uma equipa do CIES-IUL (ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa), em parceria com o Sindicato dos Jornalistas e o Obercom, e o apoio da CCPJ. Este é o sexto grande estudo sobre os jornalistas e a atividade jornalística em Portugal produzido no âmbito do CIES/ISCTE-IUL, desde 1987.
Autonomia e condicionalismos
Na avaliação da sua autonomia profissional, os jornalistas inquiridos consideram-se autónomos em relação às pressões externas, visto que apenas 13,2% se diz nada ou pouco autónomo em relação a poderes políticos ou outros, e 9,5% em relação à pressão das fontes.
Já no que toca aos fatores internos, os jornalistas consideram a sua autonomia muito mais afetada: 31,5% dizem ser pouco ou nada autónomos em relação às decisões das chefias, e 41% em relação às decisões das administrações, o que são valores muito elevados de condicionalismo profissional. Se olharmos para as baixas percentagens dos que se dizem totalmente autónomos em relação às chefias (9,9%) e às administrações (12,3%), então fica reforçada a baixa autonomia dos jornalistas. Em relação à apresentação de propostas e à seleção de informação os jornalistas consideram-se muito mais autónomos, com apenas 12,5% (propostas) e 10,9% (seleção) a dizerem ser pouco ou nada autónomos.
Os jornalistas inquiridos em 2016 consideram que o exercício livre da sua profissão é muito condicionado. O maior condicionalismo é a agenda (47,2%), seguida das condições de trabalho (43,6%) e do salário (43,5%). A conciliação com a vida pessoal e familiar é outro grande condicionalismo (40,2%), bem como o medo de perder o emprego, que é uma preocupação para 36,6%. Os inquiridos indicam também as chefias como grande condicionalismo, já que 29,2% se consideram limitados pela hierarquia. Curiosamente, os profissionais são muito mais otimistas em relação à censura externa (14%) e à autocensura (17%). Em relação à produção jornalística, será desejável uma menor colagem à agenda marcada por entidades exteriores, mais autonomia em relação às chefias e maior proteção em relação à censura externa e a pressões que levem à autocensura.
Para os jornalistas inquiridos, conciliar a vida profissional e pessoal é mais difícil do que fácil, com 46% a considerar difícil gerir o dia-a-dia, contra apenas 29,1% a considerar fácil o quotidiano.
O principal objetivo do estudo “Os jornalistas portugueses são bem pagos? Inquérito às condições laborais dos jornalistas em Portugal” é analisar as condições laborais dos jornalistas portugueses, conhecer a diversidade de percursos e perfis jornalísticos e identificar os principais constrangimentos e desafios que se colocam ao exercício da profissão de jornalista.
O inquérito é composto por 78 perguntas e foi respondido por quase 1600 jornalistas, entre 1 de maio e 13 de junho de 2016, tendo sido validadas 1494 respostas. A equipa de investigação do CIES-IUL é composta por Gustavo Cardoso, Joana Azevedo, Miguel Crespo e João Sousa. Este é o sexto grande estudo sobre os jornalistas e a atividade jornalística em Portugal produzido no âmbito do CIES/ISCTE-IUL, depois das investigações lideradas por José Manuel Paquete de Oliveira, José Luís Garcia e José Rebelo desde 1987.
Os resultados globais serão apresentados no próximo dia 14, no 4º Congresso dos Jornalistas, a realizar no Cinema S. Jorge, em Lisboa.
O EJO tem vindo a publicar as conclusões deste estudo, que por ser de grande fôlego não se esgota em apenas um artigo. Para ler mais veja os artigo em baixo, já publicados:
Maioria dos jornalistas tem licenciatura em comunicação e investe na formação contínua
Jornalistas têm quase 40 anos, trabalham mais em Lisboa e frequentaram a universidade
Jornalistas começam cedo, são experientes e continuam muito ligados à imprensa e ao texto