Maioria dos jornalistas tem licenciatura em comunicação e investe na formação contínua

Janeiro 5, 2017 • Investigação, Top stories • by

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Dois terços dos jornalistas licenciados estudou comunicação ou jornalismo, numa classe profissional que tem, na sua grande maioria, curso superior. Além de qualificações académicas quase cinco vezes superiores à média nacional, os jornalistas preocupam-se em continuar a sua formação. Um em cada 10 está a estudar, e 55% fez formação nos últimos cinco anos.

Estas são as primeiras conclusões sobre a escolaridade e formação obtidas em 2016 através do maior inquérito aos jornalistas já realizado em Portugal. Respondido por quase 1600 jornalistas, foi desenvolvido por uma equipa do CIES-IUL (ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa), em parceria com o Sindicato dos Jornalistas e o Obercom.

Em 2016, cerca de dois terços (66,7%) dos jornalistas portugueses com licenciatura frequentou cursos de Ciências da Comunicação, Comunicação Social ou Jornalismo. Os restantes têm estudos superiores muito diversificados.

Em 1997 eram 45,1% os licenciados em Ciências da Comunicação, Comunicação Social ou Jornalismo, pelo que nas últimas duas décadas houve uma acentuada concentração temática da formação superior dos jornalistas.

Dos restantes cursos superiores, os mais procurados têm temáticas diretamente relacionadas com a comunicação, como Audiovisual e Multimédia (5,2%) ou Línguas e Literaturas (3,3%). As outras áreas de aprendizagem mais escolhidas pelos jornalistas são História (3,1%), Direito (2,5%), Relações Internacionais (2,4%), Sociologia ou Antropologia (2,0 %) ou Engenharia (1,8%). Apenas 12,9% escolheu um curso que não se enquadra nas áreas anteriormente descritas.

Em termos globais, os jornalistas têm uma escolaridade muito superior à média nacional, com quase 80 por cento (79,5%) a terem completado pelo menos uma licenciatura de três anos ou um bacharelato, enquanto a média da população portuguesa com mais de 15 anos é de apenas 17,1% (em 2015, segundo INE/Pordata).

Em 2016 a formação académica dos jornalistas é muito superior ao registado em 1987. Há três décadas apenas 39,8% dos jornalistas tinham chegado à universidade, e só 15,2% tinham completado uma licenciatura, de acordo com o primeiro estudo sociológico sobre a atividade jornalística em Portugal, “Elementos para uma Sociologia dos Jornalistas Portugueses”, publicado em 1988 por José Manuel Paquete de Oliveira na “Revista de Comunicação e Linguagens”.

Três anos depois eram já 27,9% os jornalistas com curso superior completo, segundo os resultados do I Inquérito Nacional aos Jornalistas Portugueses, realizado em maio e junho de 1990 por José Luís Garcia e José Manuel Paquete de Oliveira e apresentado no 1º Encontro Nacional de Jornalistas, em março de 1991.
Já em 1997, segundo os dados recolhidos por José Luís Garcia no 2º Inquérito Nacional aos Jornalistas Portugueses, havia 43,6% de jornalistas com formação superior, fosse licenciatura (36,7%) ou bacharelato (6,9%).

Em 2006 os jornalistas licenciados tinham subido para 62,8%, dos quais 2,1% tinha mestrado e 0,3% doutoramento, segundo dados da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista trabalhados na investigação sobre o “Perfil Sociológico do Jornalista Português”, coordenada por José Rebelo, e publicados em “Ser Jornalista em Portugal: Perfis Sociológicos”, em 2011. Curiosamente, em 2009 os valores quase não se alteraram, com 63,1% a terem formação superior (dos quais 3,4% com mestrado e 0,4% com doutoramento), de acordo com a mesma investigação.

Apesar do alto nível de escolaridade atual, a maioria dos jornalistas (64,7%) só completou um bacharelato ou licenciatura. Isso significa que apenas 13,4% concluiu um mestrado, e só 1,5% um doutoramento. No polo oposto, há 20,4% que apenas frequentou o ensino secundário. No entanto, em 1997 eram 51% aqueles que apenas tinham o 12º ano, segundo o “Relatório do II Inquérito Nacional aos Jornalistas Portugueses”.

Formação complementar

Além da sua formação inicial, os jornalistas parecem procurar manter-se atualizados e em aprendizagem. Por um lado, 9,7% afirmam estar a estudar atualmente. Além disso, 55,3% afirma ter realizado formação complementar nos últimos cinco anos, seja por iniciativa própria (40%) ou proposta pela instituição empregadora (15,3%).

Desde 1997, os jornalistas passaram a apostar muito mais na formação complementar, pois em 1997 apenas 0,4% estava a frequentar cursos de formação na sua área de atividade, aquando da realização do 2º Inquérito Nacional aos Jornalistas Portugueses

O Cenjor (Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas) é a instituição de formação ou ensino a que os jornalistas portugueses mais recorreram para complementar os seus estudos. Dos que frequentaram ações de formação nos últimos 5 anos, 28,1% fizeram-no no Cenjor.

A diversidade de formações e entidades formadoras é bastante grande, com destaque para cursos organizados em instituições de ensino superior. A Universidade Nova de Lisboa, em especial na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, é a mais procurada para formação (8,7%), seguida do ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa (5,7%) e da Universidade de Lisboa (4,0%).

De destacar ainda que apenas 5,5% realizou formações internas na entidade empregadora nos últimos 5 anos, e que 3,8% realizou cursos em diversos institutos de línguas. Apesar de pouco significativos em volume, há também procura por cursos de formação no estrangeiro, tanto presenciais como em regime de e-learning.

O principal objetivo do estudo “Os jornalistas portugueses são bem pagos? Inquérito às condições laborais dos jornalistas em Portugal” é analisar as condições laborais dos jornalistas portugueses, conhecer a diversidade de percursos e perfis jornalísticos e identificar os principais constrangimentos e desafios que se colocam ao exercício da profissão de jornalista.

O inquérito é composto por 78 perguntas e foi respondido por quase 1600 jornalistas, entre 1 de maio e 13 de junho de 2016, tendo sido validadas 1491 respostas. A equipa de investigação do CIES-IUL é composta por Gustavo Cardoso, Joana Azevedo, Miguel Crespo e João Sousa. Este é o sexto grande estudo sobre os jornalistas e a atividade jornalística em Portugal produzido no âmbito do CIES/ISCTE-IUL, depois das investigações lideradas por José Manuel Paquete de Oliveira, José Luís Garcia e José Rebelo desde 1987.

Os resultados globais serão apresentados no próximo dia 14, no 4º Congresso dos Jornalistas, a realizar no Cinema S. Jorge, em Lisboa.

Em detalhe:

Escolaridade em 2016

escolaridade2016

Os jornalistas portugueses têm uma escolaridade superior à média nacional, com 79,6% a terem pelo menos uma licenciatura ou bacharelato. No entanto, a maioria (64,7%) não prosseguiu os estudos. Isso significa que apenas 13,4% chegou ao mestrado, e só 1,5% ao doutoramento. No polo oposto, há 20,4% que apenas frequentou o ensino secundário.

Escolaridade (1987-2016)

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Em 1987 apenas 39,8% dos jornalistas tinham chegado à universidade, e só 15,2% tinham completado uma licenciatura, de acordo com o primeiro estudo sociológico sobre a atividade jornalística em Portugal, “Elementos para uma Sociologia dos Jornalistas Portugueses”, publicado em 1988 por José Manuel Paquete de Oliveira na “Revista de Comunicação e Linguagens”.

Em 1990 eram já 27,9% os jornalistas com curso superior completo, segundo os resultados do I Inquérito Nacional aos Jornalistas Portugueses, realizado em maio e junho de 1990, apresentados no 1º Encontro Nacional de Jornalistas, em março de 1991 (publicado em 1994 em “Jornalista português, O que é?: inquérito e perfil socio-profissional”, de José Luís Garcia e José Manuel Paquete de Oliveira).
Já em 1997, segundo os dados recolhidos por José Luís Garcia no 2º Inquérito Nacional aos Jornalistas Portugueses, havia 43,6% de jornalistas com formação superior, fosse licenciatura (36,7%) ou bacharelato (6,9%).

Em 2006 os jornalistas licenciados tinham subido para 62,8%, dos quais 2,1% tinha mestrado e 0,3% doutoramento, segundo dados da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista trabalhados na investigação sobre o “Perfil Sociológico do Jornalista Português”, coordenado por José Rebelo, e publicados em “Ser Jornalista em Portugal: Perfis Sociológicos”, em 2011.

Em 2009 os valores quase não se alteraram, com 63,1% a terem formação superior (dos quais 3,4% com mestrado e 0,4% com doutoramento), de acordo com a mesma investigação.

Formação académica (por áreas) em 2016

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Cerca de dois terços (66,7%) dos jornalistas portugueses com licenciatura frequentou cursos de Ciências da Comunicação/ Comunicação Social (agregados representam 40,5%) ou Jornalismo (26,2%).

Dos restantes cursos superiores, os mais procurados são Audiovisual e Multimédia (5,2%) e Línguas e Literaturas (3,3%). As outras áreas de aprendizagem mais escolhidas pelos jornalistas são História (3,1%), Direito (2,5%), Relações Internacionais (2,4%), Sociologia ou Antropologia (2,0 %) ou Engenharia (1,8%). Apenas 12,9% escolheu um curso que não se enquadra nas áreas anteriormente descritas.

Formação complementar

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São 55,3% os jornalistas que em 2016 afirmam ter realizado formação complementar nos últimos cinco anos, seja por iniciativa própria (40%) ou proposta pela instituição empregadora (15,3%).

O Cenjor (Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas) é a instituição de formação ou ensino a que os jornalistas mais recorreram. Dos que frequentaram ações de formação, 28,1% fizeram-no no Cenjor.

A diversidade de formações e entidades formadoras é bastante grande. A segunda entidade mais requisitada é a Universidade Nova de Lisboa, em especial na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (8,7%), seguida do ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa (5,7%) e da Universidade de Lisboa (4,0%). Em Outra estão contabilizadas diversas universidades, escolas técnico-profissionais, centros de formação e outras entidades nacionais e estrangeiras.

Apenas 5,5% realizou formações internas na entidade empregadora nos últimos 5 anos, e 3,8% realizou cursos em diversos institutos de línguas. Apesar de pouco significativos em volume, há também procura por cursos de formação no estrangeiro, tanto presenciais como em regime de e-learning.

Para ler mais conclusões deste estudo leia o artigo já publicado no EJO, mais focado nos dados sócio-demográficos dos jornalistas portugueses.

Créditos da foto: William Iven - Unsplash
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