Libertade de imprensa na Turquia fortemente ameaçada

Agosto 8, 2016 • Liberdade de imprensa, Últimas • by

Antes da tentativa de golpe de Estado a liberdade de imprensa na Turquia já estava sob uma enorme pressão – desde então o Governo Turco tomou mais medidas massivas contra os media.

Apenas uma semana após a tentativa de golpe de Estado na Turquia, um grupo de jornalistas turcos lançou uma campanha para defender a liberdade de imprensa intitulada “Sou um Jornalista! Jornalismo não é um crime!” Os jornais online e papel que nela participaram publicaram anúncios que diziam “Sabia que? O jornalismo não é um crime?”, juntamente com uma declaração sobre a situação da liberdade imprensa na Turquia. Apenas umas semanas depois muitos desses media já não eram publicados, o presidente turco Erdogan fechou-os, após o golpe de Estado falhado, incluindo jornais Yarina Bakış, Özgür Düşünce, Meydan e Taraf bem como o site noticioso Haberdar e a agência noticiosa pró-Curda DİHA.

Na noite de 15 de julho, muitos órgãos de comunicação turcos decidiram voltar-se contra os militares e ficar do lado do Governo. Os canais de televisão resistiram às instruções dos militares e continuaram a sua cobertura. Foi desta forma que Erdogan e outros membros do partido do Governo, AKP, usaram a plataforma; Erdogan também fez uma chamada via Facetime para a delegação turca da CNN, apelando à resistência nacional nas ruas. Entretanto, o acesso às redes sociais como o Twitter foi bloqueado, pouco tempo depois foi desbloqueado, para que Erdogan pudesse também passar a sua mensagem aí, como escreve o académico turco, Efe Kerem Sozeri, no jornal online The Daily Dot.

No dia que se seguiu à tentativa de golpe, mais de uma dúzia de sites foram bloqueados pelo regulador das telecomunicações (TIB). No dia 20 de julho, Erdogan declarou três meses de estado emergência, suspendendo parcialmente a Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Desde então, o Governo turco pode governar por decreto e fazer passar legislação que tem a força da Lei. 16 canais de televisão, 23 estações de rádio, três agências de notícias, 45 jornais diários, 15 revistas e 29 editoras, que estavam ligadas ao movimento Gülen foram fechadas por decreto.
A 2 de agosto, as autoridades tinham emitido mandatos de captura contra 107 jornalistas que foram acusados de “ser membros de uma organização terrorista”, nomeadamente da Gülenist Terror Organisation (Fetullahçı Terör Örgütü, FETÖ), liderada por Fethullah Gülen, que vive nos Estados Unidos da América e tem sido acusado de ser o mandante da tentativa de golpe. 30 deste jornalistas foram presos, segundo o P24.

Os nomes destes jornalistas foram publicados pelos media pró-Governo e por seguidores do AKP, no Twitter. Entre os jornalistas detidos encontra-se Bülent Mumay, que trabalhava há muitos anos para o maior jornal, o Hürriyet, e que foi despedido em 2015 por causa da pressão feita pelo Governo do AKP. Mumay trabalhava, desde então, numa universidade e como freelance para vários media, incluindo alguns media alemães. Ele partilhou no Twitter uma foto do seu cartão de membro da Associação de Jornalistas Turcos e escreveu “Esta é a única organização da qual sou membro”. Ele também declarou que daria o seu depoimento no dia seguinte, mas a polícia prendeu-o nessa noite. Mumay foi libertado quatro dias depois entretanto há ainda outros jornalistas detidos à espera que o procurador continue as investigações.

Também foram detidos jornalistas Curdos que nem sequer fazem parte da lista. Entre eles está Zehra Dogan da agência noticiosa feminina Jinha, que foi acusada de ser membro “de uma organização terrorista”. Uns dias depois, foi detido o jornalista Zeynel Abidin Bulut, do principal diário Curdo, Azadiya Welat. No dia 2 de agosto, a polícia deteve Hülya Karakaya, o editor responsável pela revista Özgür Halk, no aeroporto de Diyarbakır. Mehmet Arslan, um repórter da Dicle News Agency (DİHA), Nizamettin Yılmaz (e a sua mulher), responsável pela distribuição do Özgür Gündem e Azadiya Welat também foram detidos no mesmo dia. Para além disso, depois de ter sido vedado o acesso à agência noticiosa DIHA, pela 43ª vez, este ano, foi também vedado o acesso à agência noticiosa JINHA, pelo TIB.

Segundo o sindicato dos jornalistas, DISK Basın-İş o número pessoas detidas que trabalhava em media e editoras chegou agora aos 64, a Direção Geral de Imprensa e Informação (BYEGM) cancelou a carteira a 330 jornalistas logo a seguir ao golpe falhado.

Desde 15 de julho, foram suspensos mais de 60 mil funcionário públicos, juízes, professores, polícias e soldados. Mais de 1500 reitores de universidades foram afastados dos seus cargos e centenas de académicos e cientistas foram demitidos. Alguns deles foram detidos sob acusação de pertencerem a “uma organização terrorista” o FETÖ (Fethullahist Terrorist Organization/ PDY (Parallel State Structure), sem quaisquer provas do seu envolvimento.
O ataques contra académicos e jornalistas transformaram-se numa caça às bruxas. O Comité de Proteção dos Jornalistas (CPJ) salienta que os jornalistas turcos “não deviam pagar o preço pela tentativa ilícita de derrubar o Governo“.

Nas ruas da Turquia as pessoas ainda se manifestam, mas não se manifestam apenas os apoiantes de Erdogan. O partido da oposição CHP organizou uma manifestação a 24 de julho na Praça Taksim. Nesse dia, Kemal Kılıçdaroğlu, presidente do CHP, já enfatizou no seu discurso a situação dramática da liberdade imprensa na Turquia.
O blogue do Comité de Proteção dos Jornalistas oferece uma boa visão geral da situação dos media e jornalistas na Turquia.

Imagem: Pixabay – CC0 Domínio Público

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