Estar presente na Internet significa para os jornalistas das rádios locais portuguesas uma boa forma para expandir a sua emissão e chegar aos emigrantes. Esta é a principal conclusão a que se chega partindo das entrevistas realizadas a 21 profissionais de emissoras locais em Portugal.
As rádios locais, pela sua própria definição, têm limitações técnicas e legais que as impedem de chegar a outros públicos para além daqueles que se encontram no território de implementação da rádio. Por essa razão, os jornalistas das rádios locais consideram que estar na Internet significa, em primeiro lugar, poder ser escutado em todo o mundo, com claras vantagens para os emigrantes portugueses.
Entrevistado Y – “Sim tem um papel importante, no sentido muita das vezes de proximidade. Recebemos todas as semanas mensagens no site, de conterrâneos que estão emigrados pelo mundo fora, e que nos ouvem diariamente, “matando” assim saudades da sua terra natal (…)”.
A rádio local encontra, deste modo, uma redefinição do conceito de proximidade que já não se limita ao território, mas que, pelo contrário, se expande pelo mundo contribuindo para gerar laços com os ouvintes e a sua região de origem. O site da rádio, admitem os jornalistas entrevistados, é sobretudo procurado para escutar a emissão por parte daqueles que não têm possibilidade de o fazer através do rádio tradicional.
Entrevistado D: (…) o site continua a ser muito utilizado pelos ouvintes, para aceder à emissão online. Muitos emigrantes ouvem-nos noutros países e claro querem saber mais da região onde vivem.
Deste modo, as respostas dos entrevistados revelaram que é pouco frequente que os ouvintes participem com conteúdos no site, comentem notícias ou gerem debate público.
As rádios locais foram legalizadas em Portugal com a publicação da lei da radiodifusão em 1988. De então para cá, o setor tem atravessado um conjunto enorme de desafios. Desde logo, o encerramento de muitas emissoras que não conseguiram sobreviver num mercado local caracterizado pela escassez de anunciantes. Na última década e meia, em virtude de uma legislação permissiva, muitas rádios locais têm abandonado a sua vertente localista, transformando-se em rádios musicais quase sem ligação às suas comunidades de implementação.
Com o desafio colocado pela Internet, as emissoras locais têm procurado potenciar a sua presença online, primeiro através do Projecto Roli, numa parceria entre a Associação Portuguesa de Radiodifusão e o Estado, que permitiu que muitas emissoras transmitam em streaming a sua emissão. Com o passar dos anos, muitas rádios locais acabaram por criar o seu próprio site para além de hoje estarem presentes nas redes sociais e nos dispositivos móveis.
Primeiro a rádio, depois a net
Num inquérito aplicado a 50 jornalistas de rádios locais (Bonixe, 2015) 90% dos inquiridos considerou “Muito Importante” a presença de uma rádio local na Internet. Apesar dessa importância, os jornalistas agora entrevistados consideram que as políticas das empresas de radiodifusão local não estão a ir ao encontro daquilo que seria o desejável de modo a aproveitarem as potencialidades que o meio online pode oferecer às rádios locais, nomeadamente no contacto com as populações e na promoção da participação dos ouvintes nos conteúdos, contribuindo assim para aumentar o seu papel de promotor de cidadania.
Uma das principais limitações identificadas pelos jornalistas entrevistados tem a ver com a falta de recursos humanos. Este factor é, de acordo com os jornalistas, o que maior influência tem na hora de fazer uma aposta maior na presença online da rádio. Com redações que, em regra, não ultrapassam os quatro jornalistas (Bonixe, 2015) torna-se muito difícil produzir conteúdos para a rádio e em simultâneo para os sites e redes sociais. Por essa razão, confessam os jornalistas entrevistados, a prioridade é quase sempre dada à emissão radiofónica, pois é preciso dar continuidade à programação.
Entrevistado B: Pois, sou eu e, admito, quando me sobra tempo. Os programas e os noticiários apanham-me praticamente todo o tempo. Admito que apenas coloco as informações em ambas as plataformas quando me sobra tempo.
É também a escassez de recursos humanos que impede, segundo os jornalistas entrevistados, que sejam implementados novos projetos no domínio do online: “Queremos tornar a página do Facebook mais interativa, com pequenos vídeos em direto. Garanto que ideias não faltam, mas não existe pessoal e mão de obra suficientes para todas as tarefas que existem” (Entrevistado W)
O número insuficiente de jornalistas conduz ainda a outra prática que os próprios jornalistas admitem não ser a mais indicada. Ou seja, como não existem jornalistas em número suficiente, a opção recai normalmente por colocar no online as notícias tal qual foram emitidas na rádio. Só raramente, admitiram os jornalistas entrevistados, são produzidos conteúdos próprios para o site e ainda menos frequente é essa produção ocorrer com recurso a ferramentas multimédia.
Entrevistado R – “(…) não há meios. E nós o que é que fazemos? A forma como a notícia é colocada no site é a forma como é lida nos noticiários. Não há aqui um trabalho específico para os noticiários e para o site. Nós aproveitamos logo e fazemos para o site o mesmo que para os noticiários, o que possibilita poupar recursos. Se fosse a trabalhar uma notícia de forma específica para o site ou para o noticiário, isso em termos de recursos humanos era mais complicado”.
Das entrevistas realizadas, a maior parte dos jornalistas reconhece na Internet um conjunto de vantagens que podem relançar as rádios locais portuguesas no que diz respeito ao cumprimento das suas funções de origem, ou seja criar laços de proximidade com as populações e apresentar-se como um espaço de crítica e conhecimento do local e da região.
Apesar disso, verificámos que a Internet não é ainda um território consensual entre os jornalistas das rádios locais em Portugal. Para alguns profissionais entrevistados, estar na Internet “não é de excecional relevância” para as rádios locais e outros consideram que o facto de os jornalistas terem de efetuar muitas tarefas: “Não deixa tempo para aprofundar temas ou muito tempo para se dedicar a outras atividades. Transforma-se numa atividade muito absorvente” (Entrevistado S).