Em outubro de 2019 as eleições legislativas aumentaram o pluralismo partidário em Portugal, com novas correntes políticas representadas na Assembleia da República. Pelo que faz, então, sentido questionar se: este novo quadro parlamentar teve consequências no debate político que se faz na televisão nacional; se os partidos que elegeram pela primeira vez um deputado também acederam aos espaços de comentário político televisivo, ou se já tinham protagonismo na televisão; ou, ainda, o que nos diz a presença dos partidos na televisão sobre a qualidade do debate político nacional.
Recordemos, que o fim dos debates quinzenais no parlamento foi aprovado, por PSD e PS, segundo o argumento de que estes debates não contribuíam para a credibilidade do parlamento, servindo apenas para “condicionar os noticiários” (Rui Rio)[1] e “produzir sound bites para telejornais” (António Costa)[2] . A justificação invocada remete-nos para a (re)produção do discurso político de origem partidária que ocorre na televisão e, igualmente, para a sua importância na interpretação que os cidadãos fazem da situação política nacional.
A este propósito é interessante constatar que, segundo o Digital News Report Portugal 2020, elaborado pelo OberCom, a maioria dos cidadãos portugueses (60,7%) concorda que os políticos e os partidos devem poder passar as suas ideias através da televisão, sendo este um meio considerado mais adequado que o Facebook, Google e Twitter (apenas 41,5% concorda com o uso destas plataformas). No entanto, apesar de a maioria dos portugueses considerarem a televisão um meio mais adequado para partidos e políticos transmitirem as suas ideias, isso raramente significa que assistamos à sua reprodução em discurso direto. Pois, por um lado, aquilo que encontramos no contexto dos noticiários televisivos é uma intermediação jornalística das ideias políticas, que são transmitidas de acordo com opções editoriais, sendo-lhes dado um determinado enquadramento, produto de técnicas de corte e edição e submetidas a critérios de interesse jornalístico. Por outro lado, quando surge a análise política (que pode ocorrer dentro ou fora dos noticiários ou espaços noticiosos televisivos), surge a figura do comentador político, o qual, apesar das possíveis ligações partidárias, surge nesses espaços de comentário como um “analista independente”.
É em particular sobre o fenómeno do comentário político em televisão que o MediaLAB do ISCTE-IUL se debruça nesta análise que se centra sobre os espaços de comentário político de comentadores “residentes”, onde se faz análise política com uma regularidade “fixa” semanal. Entre os dias 1 e 31 de outubro de 2020 analisámos 18 programas televisivos, que continham no total 60 destes espaços semanais “fixos”[3] de comentário político. Antes de avançarmos, aproveitamos para salientar que, à semelhança do que foi feito nas análises dos anos anteriores, o apuramento da orientação política e militância partidária dos comentadores televisivos procurou ser o mais exaustivo possível, sendo efetuado a partir de informação acessível no domínio público na Internet – portanto, igualmente acessível a quem vê esses programas e procura saber mais sobre as opções políticas desses intervenientes.
No reino dos comentadores televisivos o trono pertence à direita
A independência política dos comentadores televisivos com espaço “fixo” semanal é muitas vezes questionada, sendo a militância o primeiro fator apontado para um possível enviesamento da opinião. A este respeito, cerca de dois em cada cinco comentadores (42%) possui uma filiação partidária pública. Contudo, tal não significa necessariamente, que estes comentadores sigam o discurso ou a “cartilha” da direção de um dado partido, até porque, por vezes, se tornam porta-vozes da insatisfação com a linha oficial dos partidos, e protagonizam – através do seu comentário – novos eventos políticos que são alavancados pela sua elevada visibilidade mediática.
Um fator que surge, de uma forma geral, mais decisivo na leitura que os comentadores fazem da realidade é a sua orientação política, e não tanto a sua filiação partidária. Aqui identificamos, entre aqueles que apresentam uma tendência definida, um quase empate entre os que se posicionam mais à direita (51%) e os que se posicionam mais à esquerda (49%). Em comparação com 2019, onde a percentagem de comentadores à direita era superior (55%), verificamos em 2020 um maior equilíbrio entre esquerda e direita no comentário televisivo semanal.
Em sentido contrário, as diferenças tendem a manter-se se considerarmos o género. Tal como verificámos na análise efetuada de 2019 – os espaços de comentário “fixo” são predominantemente masculinos. Em 2020, 80% destes espaços são ocupados por homens. Neste particular, se selecionarmos apenas os homens, a direita ganha vantagem, sendo essa a tendência de 60% dos comentadores masculinos. Por outro lado, as mulheres, que representam apenas 20% dos comentadores “residentes”, são, claramente, mais de esquerda. Entre as mulheres comentadoras 89% posicionam-se mais à esquerda.
Outro elemento relevante, que merece atenção e detalhe, é saber se estes espaços de comentário se apresentam como palcos de opinião individual ou como painéis de debate entre opiniões plurais. Os dados mostram-nos que, dos 60 espaços identificados como de comentário, 15 são de “assinatura”. Isto é, espaços em que a análise política é protagonizada por um único comentador. Assim, um quarto (25%) das análises políticas semanais em televisão decorrem sem debate ou contraditório, para além daquele que possa ser exercido, eventualmente, pelo jornalista. De notar ainda que também aqui registamos uma tendência política mais à direita, com 64% dos comentadores nos espaços de “assinatura” posicionados à direita, característica em linha com a masculinização destes espaços de comentário individual (apenas 3 em 15 são protagonizados por mulheres). Esta análise introduz, inevitavelmente, a questão de saber até que ponto os critérios editoriais televisivos não necessitam de ser reajustados para diminuírem o número de comentadores masculinos e aumentar os femininos?
Igualmente importante, é observar se o equilíbrio global nas presenças de comentário de direita e de esquerda se verifica nos vários canais televisivos generalistas, de notícias e temáticos da amostra. Considerando os dois lados do espectro político a SIC Notícias e o Canal Q são os canais que apresentam maior equilíbrio. Nesses dois canais metade dos espaços de comentário estão equitativamente atribuídos a cada um dos lados do discurso político. Por sua vez, os canais que mais fazem pender a balança para a direita são a CMTV (67% dos espaços têm comentadores de direita) e a SIC (75%). Também a TVI, que não apresenta nenhum comentador “fixo” semanal com tendência de esquerda, pesa mais para o lado direito do espectro político. Em sentido inverso, na TVI24 registamos 62% dos espaços à esquerda, enquanto a RTP 3 favorece em menor grau a esquerda (44%) sobre a direita (36%). Convém salientar que a RTP, na qualidade de serviço público de televisão, distingue-se dos restantes canais. Em primeiro lugar não apresenta qualquer programa de comentário político de assinatura. Em segundo, e ao contrário da RTP3, o canal generalista da RTP1 não tem espaços de comentário “fixo” semanal, embora tenha introduzido um modelo rotativo[4] , em que duas duplas de comentadores, compostas por um elemento de esquerda e outro de direita, vão alternando na análise política que se faz ao domingo.
Partidos: pequenos no Parlamento, grandes na televisão?
Estabelecendo como critério a representatividade partidária na Assembleia da República, o mapa dos comentadores televisivos com espaço “fixo” em televisão seria muito diferente. Para os mesmos 25 lugares atuais de comentário político militante em televisão, o PS subiria para o primeiro lugar com mais 5 comentadores, passando a 12. O PSD desceria da primeira posição, mas conquistaria mais 1 lugar (passando para a 9), enquanto que o CDS protagonizaria a maior queda (passando dos atuais 5 para 1). Por sua vez, o BE e o PCP manteriam os seus comentadores (respetivamente 2 e 1). No entanto, a Iniciativa Liberal (1) e o Livre (1) ficariam sem espaços de comentário em televisão, enquanto que o PAN ficaria no limiar de conquistar 1 espaço de comentário semanal.
O cenário seria equivalente se utilizássemos como critério a representatividade partidária no Parlamento Europeu. Aqui o PS subiria para 11 lugares, o PSD desceria para 7, sendo que os principais beneficiados seria o PCP, que passaria a 2 lugares e, a par do BE, no limiar do 3º. Por fim ainda teriam assento semanal entre os comentadores o CDS (1) e o PAN (1).
Assim podemos constatar que estas simulações com base nos resultados eleitorais – independentemente do critério – aproximariam a televisão daquilo que encontramos no Parlamento Europeu onde, elegendo apenas 21 deputados (face aos 230 da Assembleia da República) não haveria, também, espaço para uma hipotética representação do Chega, Iniciativa Liberal ou Livre. Estes critérios, teriam outro viés. Pois, iriam ainda fazer aumentar mais a proporção de comentadores semanais na televisão afetos aos dois maiores partidos (PS e PSD) para além dos 60% registados, passando para 79%, se usarmos a proporção de mandatos no Parlamento Europeu ou de 84%, se recorrermos à distribuição de lugares existente na Assembleia da República.
Este exercício hipotético faz-nos refletir sobre a representatividade política em televisão o que, no contexto atual de fragmentação da representação partidária, nos remete para a representação das minorias parlamentares. Repare-se, que um dos efeitos perversos desta lógica aritmética aqui ensaiada seria a de permitir justificar a ausência de representantes dos “novos” partidos (Chega, IL, Livre) nos espaços de comentário político semanal, uma vez que o reduzido número de lugares disponíveis em televisão para comentadores militantes (neste caso, e no período de tempo analisado, 25) não seriam suficientes para garantir a representação dos 10 partidos que se sentam na Assembleia da República.
Um critério meramente aritmético pode ser injusto por afastar do comentário televisivo opiniões representadas na Assembleia da República, mas convém não esquecer que estamos a olhar apenas para os comentadores “residentes”, pelo que existe um universo de “convidados” em que estes representantes partidários entram. Além disso, é importante também equacionar se os efeitos da distorção da representação política em televisão ajudam ao reconhecimento público de visões políticas alternativas e, indiretamente, influenciam ou não a eleição política. Por exemplo, o Livre e a Iniciativa Liberal já contavam com representação em espaços de comentário “fixo” televisivo antes de elegerem um deputado em outubro de 2019, e o líder do Chega protagonizou um espaço de comentário “fixo” semanal, que embora de teor desportivo, lhe conferiu uma importante notoriedade pública. Perante este conjunto de dados, fica uma pergunta sem resposta: a melhor forma de um novo partido eleger hoje em dia um representante para o parlamento é antes assegurar um lugar na televisão? Não bastam as redes sociais?
O outro reino paralelo do comentário partidário
Como vimos os programas com comentadores políticos “residentes” podem evidenciar alguma preocupação com o pluralismo político, mas não seguem de forma objetiva critérios de representatividade eleitoral. Por outro lado, os programas “Parlamento” e “Eurodeputados”, ambos da RTP, constituem-se enquanto espaços que obedecem à representatividade parlamentar, nos quais podemos avaliar uma outra realidade possível. Os programas dão voz a deputados eleitos que fazem o seu comentário político semanal, no primeiro caso na Assembleia da República e no segundo no Parlamento Europeu – sendo que em ambos o espaço de comentário é atribuído aos partidos e não aos deputados (que vão alternando).
O programa «Parlamento» dispõe de 4 espaços de comentário político, reservando sempre dois lugares para a esquerda e dois para a direita. Usualmente um é ocupado pelo PS e outro pelo PSD, o que deixa mais dois lugares disponíveis para os restantes partidos[5] . O outro programa que tem preocupações de representatividade partidária é o “Eurodeputados”. Neste ultimo, existem 5 lugares distribuídos atualmente entre os 5 partidos mais antigos na presença europeia (PS, PSD, BE, PCP, CDS) – isto após a desvinculação do deputado do PAN[6].
Entre 1 e 31 de outubro agregando as 5 edições do “Parlamento” com as 5 edições dos “Eurodeputados” encontramos 45 espaços individuais de comentário onde, ao contrário do que acontece nos programas com comentadores “residentes”, a esquerda leva vantagem sobre a direita. Neste período 29 dos 45 espaços de comentário – 64% – foram ocupados por deputados de partidos de esquerda, refletindo a maioria de esquerda existente na Assembleia da República e na delegação portuguesa no Parlamento Europeu.
Apesar de estarmos apenas a olhar para 10 edições dos programas que ocorreram no espaço de 1 mês, é curioso notar que a maior força da esquerda se deve sobretudo à sobrerepresentação do BE (10 espaços de comentário), a qual se torna equivalente à do PS (10) e supera o PSD (9). Aqui também pesa a sobrerepresentação do PCP (8), que aparece com maior protagonismo neste formato institucional, e que é equilibrada pelo CDS (7), contrastando com a quase ausência do PAN (1) motivada pela desvinculação ao partido do seu único eurodeputado eleito. Quanto à representatividade dos partidos mais pequenos, que apenas poderiam constar do programa “Parlamento” (uma vez que não têm representação europeia), verificamos que no período analisado em nenhuma circunstância houve a participação do deputado do Chega ou da Iniciativa Liberal ou da deputada não-inscrita ex-Livre, o que de novo nos remete para a dificuldade prática de realizar uma divisão equitativa de espaços de comentário político, quando para tal existam poucos lugares para serem distribuídos pela totalidade das forças políticas[7].
A televisão é uma caixa fechada?
O processo político foi descrito por David Easton como uma “black box”, e sabemos que a capacidade de marcar a agenda dos media, e em particular na televisão, pelos comentadores políticos, influencia também o que sai dessa caixa. É por isso pertinente saber se os protagonistas do comentário semanal têm mudado nos últimos anos. Sobre este tema podemos concluir, olhando apenas para os nomes que fazem comentário semanal em televisão, que 20% mudaram face a 2019 e, por sua vez, 48% face a 2016.
A questão de quem comenta relembra-nos o poder da televisão nas escolhas que faz ao abordar os assuntos considerados relevantes para a audiência. De facto, é reconhecida aos comentadores capacidade de influenciar a agenda política, tanto na definição dos temas mais importantes como na avaliação do comportamento de diferentes atores. Neste sentido, têm um papel importante na qualidade do debate sobre os assuntos políticos. Aqui convém recordar os casos extremos em que quem comenta é simultaneamente o objeto da notícia, o que acontece por exemplo com comentadores militantes – veja-se o caso da candidata presidencial Ana Gomes – dando a possibilidade dos comentadores criarem a realidade e simultaneamente a sua perceção.
Outro caso que merece reflexão são os espaços de comentário de assinatura – casos paradigmáticos de Luís Marques Mendes ou Paulo Portas – normalmente inseridos em noticiários, de informação jornalística: até que ponto o telespectador compreende e tem em conta que, apesar de se apresentarem num espaço noticioso, comentadores como os referidos não são jornalistas, portanto a informação que passam não está sujeita ao critério jornalístico? Este tipo de comentário político foi inaugurado, em Portugal, por Marcelo Rebelo de Sousa ao introduzir “novidades” e informação que é dada em “primeira mão”, numa tentativa de se aproximar da prática do jornalista de dar notícias e, simultaneamente, buscando todos os tipos de público, deixar para trás uma comunicação mais elitista, muito presente no comentário político até então, como salienta Rita Figueiras no seu livro “O efeito Marcelo: o comentário político em televisão”[8].
Esta “linguagem” também ela mais próxima do jornalismo e por vezes, mais no caso de Marcelo Rebelo de Sousa, do infotainment, poderá ajudar a criar a noção de que estes comentadores trabalham a informação de forma como os jornalistas fazem e que há critérios editoriais jornalísticos por detrás delas. Salienta-se que os jornalistas que partilham o espaço com estes comentadores muitas vezes contribuem para o próprio equívoco dado o tipo de formato, ao não ocorrer contraditório. Estes espaços tornam-se, assim, muito permeáveis à construção de agendas políticas de uma forma mais ou menos subtil, mas que se apresenta como problemática, ao assumirmos que todos os telespectadores possuem as competências de literacia para separar comentário de notícia. Ainda recentemente, o jornal Público foi criticado por ter publicado um artigo[9] em que citava números “de Marques Mendes” sobre App Stay Away Covid, legitimando o comentador como alguém que pode noticiar, à semelhança dos jornalistas.
Embora possamos reconhecer aos comentadores políticos elevação na troca de argumentos também assistimos a momentos no domínio da televisão-espetáculo. Recorde-se que no verão usou-se a expressão “toxicidade” para justificar o fim de alguns programas de comentário futebolístico[10], por vezes mais centrados em ataques pessoais do que na discussão do jogo “dentro das quatro linhas”, e essa atmosfera futebolística está por vezes presente nos espaços de comentário e debate político.
É comum os comentadores políticos fazerem o exercício – mais ou menos explícito – de coroar as melhores performances, entrando em análises mais centradas na forma (palavras, gestos e tom) do que no conteúdo (propostas e consequências na vida das pessoas). Mas apesar do simplismo ou superficialidade ser muitas vezes criticável, sabemos que a dimensão simbólica da política é importante e que muitos eleitores utilizam pistas e atalhos informacionais para tomar decisões políticas.
Podemos ainda assim questionar se a manutenção dos mesmos comentadores (que tendem a discutir os mesmos temas) é em si uma fonte de “toxicidade” de outro tipo que transforma a televisão numa caixa fechada, repetitiva e que fomenta a procura por de outras fontes de informação, como as redes sociais, onde a interpretação dos factos políticos tem tanto de alternativa como muitas vezes de falsidade.
Em termos equivalentes podemos pensar se o fim dos debates quinzenais na Assembleia da República é ou não promotor de maior “toxidade” no debate público, uma vez que a diminuição dos espaços institucionais de intervenção partidária significa um aumento da atenção e da disputa partidária em espaços não institucionais – e não mediados – como as redes sociais online. E se, até, intervenções de minuto e meio (como no caso dos deputados únicos nos extintos debates quinzenais) produzem efeitos mediáticos significativos, não nos podemos esquecer que a prevalência da forma sobre o conteúdo não se esgota na dialética parlamentar, nem tão pouco no comentário político, estando presente com elevada “toxicidade” nas redes sociais.
É por isso importante questionar se o comentário televisivo, os conteúdos nas redes sociais e os debates na Assembleia da República transmitidos em televisão (e reenquadrados para as redes sociais) serão os novos vértices do modelo de comunicação política – onde o peso da imagem e do vídeo é crescente – e se os políticos, jornalistas e cidadãos saberão fazer, ou não, bom uso deste modelo emergente. A resposta terá de ser dada através da observação das práticas presentes e futuras.
Notas:
[1] “Fim dos debates quinzenais. Rio admite que houve conversas com o PS”, por Paula Caeiro Varela, Rádio Renascença Online 23.07.2020
[2] “Costa e os fundos europeus: Temos a bazuca. Mas não podemos falhar o tiro”, por DN/Lusa, 30.08.2020
[3] Espaços em que o comentador se mantém e que, por vezes, é chamado de comentário com assinatura.
[4]“RTP reforça painel de comentadores do Telejornal de domingo”, por RTP, 09.04.2020
[5] Na sequência das eleições legislativas de outubro o programa «Parlamento» parecia ter alargado os espaços de comentário político de 4 para 5 mas, aparentemente por motivos de distanciamento social e acompanhando a diminuição da lotação nas sessões da Assembleia da República, voltou ao modelo anterior em que em que dispõe de 4 lugares.
[6] Antes das últimas eleições para o Parlamento Europeu os 5 lugares disponíveis no programa “Eurodeputados” garantiam um assento a cada um dos 5 partidos que representavam os portugueses na União Europeia, mas a eleição de um deputado do PAN em maio de 2019 significou que um dos partidos ficava de fora todas as semanas. Em junho de 2020 a saída de Francisco Guerreiro do PAN, passando a independente, levou ao regresso ao formato de 5 lugares distribuídos entre os 5 partidos “mainstream” (PS, PSD, BE, PCP, CDS).
[7] Em todo o caso, convém relembrar que o canal da AR TV, canal oficial da Assembleia da República que é disponibilizado em sinal aberto, introduz algum equilíbrio na visibilidade que os partidos têm em televisão, embora o peso institucional dos conteúdos o torne menos apelativo à audiência, servindo provavelmente mais para garantir a transparência e o escrutínio público do trabalho parlamentar.
[8] Figueiras, R. (2019). O efeito Marcelo: o comentário político em televisão. Coleção Retratos. Fundação Francisco Manuel dos Santos.
[9] “App StayAway Covid foi descarregada 2,28 milhões de vezes. Os números são de Marques Mendes”, por Sónia Sapage, Público, 18.10.2020.
[10] “Contra a “toxicidade”, SIC Notícias acaba com programas com comentadores que representam clubes de futebol”, por Lusa e Público, 27.07.2020.
Metodologia
O estudo conduzido pelo MediaLAB do ISCTE-IUL procurou verificar a presença das diferentes correntes político-partidárias nacionais nos programas de comentário e debate político no panorama televisivo português. A análise foi efetuada com base em duas observações com lapso temporal próprio, uma semanal e outra mensal, que originaram registos paralelos, e que captam conceções diferentes do comentário político em televisão, sendo por isso dividida em duas partes. A primeira parte – e foco principal da análise – remete para os espaços de comentário político “fixos”, considerando todos os comentadores que, numa base regular e semanal, no seu espaço próprio ou partilhado com outros analistas, comentam a atualidade política nacional e internacional. Foram analisados 60 espaços de comentário “fixos”, em 18 programas televisivos, em 7 canais de televisão. Numa tentativa de conseguir uma análise mais robusta, que garantisse a comparabilidade entre programas, foram apenas incluídos aqueles que contam com os chamados “comentadores residentes”. Ou seja, os comentadores que têm presença semanal na televisão, e não os convidados pontuais, excluindo assim programas e segmentos de debate como «É Ou Não É?» ou «Expresso da Meia-Noite», por não reunirem estas condições. Excluíram-se ainda canais de âmbito regional, como a RTP Açores, RTP Madeira ou o Porto Canal.
A segunda parte da análise, é constituída por dois programas que se apresentam como a melhor aproximação a um modelo que implicasse a existência de “quotas” partidárias nos espaços de comentário e debate televisivo; e resulta do seu acompanhamento ao longo de 1 mês. Os programas «Parlamento» e «Eurodeputados», da RTP 3, foram considerados os mais relevantes no panorama televisivo português dado que, por um lado, pressupõem critérios alternativos e diferenciados de representatividade política e, por outro, a estabilidade dos critérios aplicados torna o painel de comentadores menos contingente das temáticas abordadas em cada edição.
Nos casos dos espaços de comentário “fixos” ocupados por analistas sem militância partidária a sua categorização foi realizada tendo conta a sua atividade e intervenção pública, fora do espaço televisivo, bem como o conteúdo da sua análise política. Estes comentadores foram classificados segundo as categorias: «Direita» ou «Esquerda». Foram ainda incluídos na categoria de «não posicionados politicamente» os comentadores cuja conotação política não é atribuível à luz dos critérios definidos para esta análise.
O trabalho de recolha, codificação e análise foi realizado pelos investigadores Paulo Couraceiro, Gustavo Cardoso e Ana Pinto-Martinho, e decorreu entre 1 e 31 de outubro de 2020.
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