O futuro do financiamento do jornalismo – Que tipo de modelos de negócios inovadores podem ser observados nos países do NEWSREEL?

Dezembro 10, 2018 • Investigação, Jornalismo, Negócio, Últimas • by

As novas formas de financiar projetos de jornalismo são um dos tópicos mais quentes no campo dos media contemporâneos. No entanto, é difícil encontrar modelos de negócios inovadores que funcionem com sucesso no longo prazo. A maioria dos meios de comunicação tenta combinar modelos financeiros tradicionais com novos. Algumas das melhores práticas em todo o mundo variam de diferentes modelos de publicidade, conteúdo pago, patrocínio e associação, até a venda de produtos que não sejam de media. O público tem um papel mais significativo do que nunca, pois já não é apenas consumidor, mas também pode aparecer como financiador, por exemplo no caso do crowdfunding. Durante a Fase 1 do projeto Newsreel, foram analisamos novos modelos de negócios no campo dos media e os currículos universitários da Roménia, Hungria, Alemanha e Portugal.

Modelos de negócios dos media

 

Dificuldades na Roménia e Hungria

Na Roménia, devido a influências oligárquicas, novos modelos de negócios ganham cada vez mais destaque. No mercado romeno, as redações que se são pensadas como ONGs, como o projeto RISE e o Centro Romeno de Jornalismo Investigativo, tornaram-se bastante importantes. Apesar de serem NGOs elas fazem jornalismo profissional, não têm fins lucrativos e geralmente fazem parte de redes internacionais. Essas associações também conseguem, normalmente, atrair mais apoio pelo meio de crowdfunding.

A Hungria também sofre de interferências oligárquicas ligadas à influência do Estado. Além disso, não há acesso pago, conteúdo metered ou freemium no mercado de media. No entanto, equipas de investigação independentes como a do Átlátszó – que desempenhou um papel pioneiro no crowdfunding e do Direkt36 têm campanhas de crowdfunding bem-sucedidas. Um dos maiores portais de notícias, o 444 também usa crowdfunding, assim como um pequeno portal local Szabad Pécs (Pécs grátis).

O grande problema é que nem a mentalidade romena nem a húngara favorecem esses novos tipos de modelos: as pessoas geralmente são relutantes em pagar por conteúdos jornalísticos online. É difícil mudar essa atitude, mas Anita Vorák (Direkt36) prefere afirma que é melhor depender apenas de crowdfunding porque assim podem ser mais independentes. Augustin Roman (Digital Antena Group) disse que a maioria dos novos modelos de negócios inovadores na Roménia não conseguiram produzir o resultado esperado para os media convencionais.

Experiências inovadoras na Alemanha e Portugal

Na Alemanha, existem várias formas de modelos de conteúdo pago. Cerca de um terço dos jornais diários tinham, em 2017, posto acesso pago às suas páginas da Web. No entanto, não é tão habitual ocultar todo o conteúdo atrás de acesso pago; portanto, a maioria dos media ainda oferece algum conteúdo online gratuitamente. Os meios de comunicação também estão a experimentar modelos freemium (em que as pessoas pagam apenas por conteúdos exclusivos) ou modelos mettered (em que os utilizadores podem ler uma certa quantidade de texto gratuitamente). O crowdsourcing não é muito popular, mas algumas organizações de media tentaram essa forma inovadora, como é o caso do Krautreporter. Embora a redação investigativa sem fins lucrativos Correctiv tenha financiamento de fundações e filantropia, esses não são o único pilar do seu modelo de negócios. Eles desenvolvem continuamente novos fluxos de receita na forma de taxas de adesão ou doações. Curiosamente, a maioria dos entrevistados alemães acha que a Alemanha é um “país subdesenvolvido” no que diz respeito ao conteúdo pago. De acordo com o professor de jornalismo Tanjev Schultz, um dos motivos pode ser porque os modelos de pagamento digital foram introduzidos muito tarde na Alemanha.

Em Portugal, tanto os legacy media (media tradicionais e mais antigos) como os novos meios de comunicação estão a experimentar formas de receita inovadoras de publicidade nativa e branded content e conteúdos mettered. Em 2015, o ISCTE-IUL realizou uma investigação académica para a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC)  que concluiu que nenhum dos jornalistas portugueses entrevistados se sentiu à vontade para falar sobre a área de negócio e os modelos de negócio, mas concordaram que é vital encontrar novos modelos de negócio. O projeto jornalístico É Apenas Fumaça, que ganhou financiamento da Open Society Foundation, foi citado como um bom exemplo.

Featured image by Marco Verch (flickr)

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