Jornalismo colaborativo e as suas diferentes formas: os casos de Portugal, Alemanha, Roménia e Hungria

Janeiro 20, 2019 • Investigação, Jornalismo, Últimas • by

Nos trabalhos jornalísticos contemporâneos, o processo de cooperação ganham uma importância cada vez maior. Sem colaborações internacionais transfronteiriças, projetos de investigação massivos como os Panamá e Paradise Papers não poderiam ter sido realizados. No entanto, a colaboração também é essencial quando os parceiros do projeto de diferentes setores do mercado de trabalho precisam trabalhar juntos. O relatório de pesquisa do projeto NEWSREEL enfatiza a forma como o jornalismo colaborativo aparece no cenário dos media e nos cursos de jornalismo das universidades dos países parceiros: Alemanha, Hungria, Portugal e Roménia.

Tipos de jornalismo colaborativo

Nos quatro países parceiros, existem diferentes formas de jornalismo colaborativo. Para além de jornalistas que trabalham com outros jornalistas, há também aqueles que trabalham com ONGs, como n-ost da Alemanha e Rise Project da Roménia, principalmente quando estamos em presença de grandes leaks de informação, como os Panama Papers, nos quais todos os países do NEWSREEL participaram. Além disso, a Transparency International Hungary lidera um programa de mentoria para jovens jornalistas cujos trabalhos são publicados em jornais semanais e portais de notícias específicos.

Vários meios de comunicação colaboram a nível nacional e europeu. Na Hungria, a equipa de jornalismo investigativo Direkt36 publica os seus trabalhos no seu portal, num dos portais de notícias húngaros mais proeminentes, o 444, e no programa de notícias do maior canal de televisão privado, RTL Klub. Como os parceiros alemães sublinharam, algumas histórias são apenas investigadas em conjunto (como a cooperação do Süddeutsche Zeitung, NDR e WDR), enquanto outras são escritas pelas equipas colaboradoras. Noutros projetos, os parceiros compartilham bases de dados; e noutros casos, apenas os resultados da investigação.

A cooperação entre jornalistas, especialistas em TI, designers e outros também é percetível em todos os lugares. Por último, mas não menos importante, outra forma comum desse tipo de jornalismo é quando os jornalistas colaboram com o seu público (principalmente com utilizadores de internet) em casos de crowdsourcing ou jornalismo participativo.

Jornalismo colaborativo no ensino superior

Nenhuma das instituições analisadas na Hungria, Roménia, Alemanha e Portugal ensina jornalismo colaborativo como um curso específico. A forma mais popular de colaboração, no ensino, é fazer os alunos trabalharem em equipas nas aulas ou seminários.

Os projetos funcionam como principal área de colaboração – Roménia, Hungria e Portugal

Na Roménia, o jornalismo colaborativo está subdesenvolvido, não apenas no campo dos media, mas também nos programas de jornalismo das universidades. No entanto, algumas instituições ensinam a introdução à colaboração no jornalismo e os alunos discutem estudos de caso. Na Babeș-Bolyai University, por exemplo, os alunos trabalham em colaboração para produzir conteúdo para a rádio online, serviços de partilha de vídeo ou revistas online, e o feedback é geralmente positivo.

Da mesma forma, na Hungria, a colaboração desempenha um papel importante em todas as instituições analisadas, quando falamos de conteúdos produzidos pelos os alunos. A Metropolitan University dá ênfase especial aos trabalhos de projeto, o que significa que dois ou três membros da equipa trabalham juntos para realizar reportagens em vídeo ou outros projetos de media, enquanto refletem sobre um problema contemporâneo da vida pública. Na Universidade de Szeged, é um grande objetivo ensinar jornalismo colaborativo como uma área independente em breve.

Em Portugal, várias universidades integram um projeto colaborativo, denominado Repórteres em Construção (REC). Nesse projeto, estudantes de jornalismo de várias universidades produzem reportagens investigativas para um site e um programa de rádio. Alguns entrevistados, em Portugal, mencionaram a importância do uso de ferramentas como o Slack (uma ferramenta colaborativa baseada na web) nalguns alguns dos seus trabalhos. Na Universidade do Minho, não ignoram o jornalismo colaborativo, mas não é o foco de nenhuma unidade curricular, em particular.

Para além dos projetos nacionais – Alemanha

Na Alemanha, os alunos trabalham em equipas no âmbito das redações das universidades, bem como durante as unidades curriculares que terminam com um projeto jornalístico. Como Klaus Meier (Universidade Católica Eichstätt-Ingolstadt) sublinhou, ‘os jornalistas já não são trabalhadores individuais – pilotos solitários – eles precisam ser capazes de trabalhar em equipas [..] E se conseguir trabalhar numa equipa nacional, será capaz de trabalhar em equipas internacionais’. ”Stuttgart, Colónia e Eichstätt permitem que os seus alunos trabalhem em contextos internacionais e passem um semestre no exterior, enquanto Dortmund pede que os alunos façam estágio no exterior. Situação semelhante à Roménia, em que alguns departamentos usam as suas palestras para discutir formas de colaboração no jornalismo, principalmente por meio de estudos de caso. Em Stuttgart, um módulo sobre crowdsourcing também está disponível. Durante esses cursos, os alunos podem aprender também como colaborar com o público.

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