Os jornalistas portugueses são menos, estão mais velhos, têm mais formação académica e cada vez há maior percentagem de mulheres. É este o retrato em 2014, que fazemos nesta segunda parte do artigo publicado na última semana de dezembro.
A idade média dos que trabalham em jornalismo em Portugal tem vindo a aumentar, colocando em causa a renovação das redacções (Gráfico 1). Considerando todos os títulos (carteira profissional, títulos de estagiário, equiparado a jornalista, imprensa estrangeira, colaborador e colaborador das comunidades), a percentagem de profissionais com idade até 40 anos baixou de 66% em 1997 para 42,5% em 2014.
A quebra na faixa dos 30-40 pode justificar-se por ser “a faixa etária em que, por excelência, há mais abandonos para profissões conexas, como assessorias ou para empresas de comunicação”, explica José Rebelo, do ISCTE. Mas a verdade é que 57,5% dos profissionais de jornalismo em Portugal tem mais de 40 anos, sendo as mulheres as mais novas.
Feminização da profissão desacelerou
O número de mulheres jornalistas tem vindo a crescer de ano para ano em Portugal. Se em 1990 havia uma relação de três homens para uma mulher, passou a ser de dois para um em 1997 e, em 2006, as mulheres já representavam cerca de 40%.
Um bom exemplo é o Público, com 56% dos jornalistas mulheres, existindo um equilíbrio ao nível das chefias, num diário dirigido por Bárbara Reis e administrado por Cláudia Azevedo. Mas a feminização desacelerou com a crise (Gráfico 2).
A percentagem de mulheres jornalistas, que tinha crescido cerca de 20% entre 1990 e 2006, cresceu apenas 2% entre 2006 e 2014. Nesse período entraram mais mulheres que homens na profissão, mas de a diferença não ser significativa. Entre 2006 e 2014 entraram 1553 mulheres e 1213 homens. Outra possibilidade, que é sentida mas não encontrámos medida, é o facto de as mulheres serem mais afectadas aquando dos despedimentos que os homens.
Mas as mulheres deverão continuar a ganhar terreno, sendo já 56% na faixa até 30 anos e 51% entre os 31 e os 40. Os homens estão em maioria nos 41-50 (63,5%) e nos 51-60 (77%), sendo quase 90% entre os jornalistas com 61 ou mais anos, ou seja, em idade de pré-reforma ou reforma.
Formação dos jornalistas
A classe dos profissionais ligados ao jornalismo tende a ser cada vez mais formada em termos académicos, Se em 1991, 51% tinham o Secundário e 49% a licenciatura ou, pelo menos, a sua frequência, a situação inverteu-se e, em 2006, já eram 60% os licenciados, além de 2,4% de pós-graduados, mestres ou doutores. Em 2014 acentuou-se a tendência: 62,6% de licenciados e já 5,2% de pós-graduados, mestres e doutores. Há mais mulheres licenciadas que homens, sendo as formações destes mais dispersas (Gráfico 3).
Mas também a idade influi. Os jornalistas licenciados estão concentrados nas faixas etárias até 40 anos. Mais de 80% dos jornalistas com idade até 30 anos são licenciados, enquanto entre os 31 e os 40 quase metade (48,7%) têm esse grau académico. Na faixa etária 41-50 dominam as formações ao nível do Secundário (39,2%) e de frequência do Superior (37,2%).
“As redacções actuais têm uma qualidade muito superior, com a chegada de pessoas com conhecimento profundo e específico em várias áreas”, explica Bárbara Reis, directora do Público, que saúda o facto de ter licenciados em Jornalismo, mas também e, por exemplo, em Biologia, Matemática Aplicada, Economia, Direito e História.
Jornalistas ou comunicadores?
Em Portugal existem 32 cursos de licenciatura na área da Comunicação, com ramos de Jornalismo (mais 15 mestrados e quatro doutoramentos. Os números são da tese de Doutoramento de Sandra Marinho, directora do Curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho, para quem o facto de os jovens se licenciarem não significa que sigam jornalismo. Seja porque não obtêm a carteira, seja devido às oportunidades que existem noutras áreas, como a comunicação empresarial, associações e outras entidades. “Como o jornalismo não consegue aproveitar estes jovens, eles investem neste mercado. E até porque é muito mais fácil irem das relações públicas para o jornalismo do que o contrário”, refere.
Idêntica posição tem Jorge Nascimento Rosa, director do Curso de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa: “Antes iam para assessores os jornalistas mais experientes, mas agora são os mais novos que procuram estes lugares, também porque as próprias pequenas e médias empresas estão a investir nesta área”.
Os cursos de Comunicação, que têm vários ramos, apostaram na Comunicação Estratégica, que neste momento atrai tantos ou mais alunos que o ramo Jornalismo. O curso da Nova, por exemplo, tem 20 unidades curriculares mais cinco da especialização (ramo) escolhido e cinco opções livres. Alguns alunos de jornalismo escolhem como opções livres as unidades curriculares de especialização em Comunicação Estratégica e, “quando pedem o diploma, apesar de terem feito o ramo de Jornalismo, podem pedir o diploma com a especialidade de Comunicação Estratégica”, explica Jorge Rosa.
Ainda assim, o ramo de Jornalismo continua a ser importante em todos os cursos, como acontece na Universidade da Beira Interior, que foram anualmente entre 25 e 30 alunos nesta área. O foco está claramente no jornalismo em plataformas digitais. “O que tentamos fazer aqui é antecipar aquilo que é, em meu entender, o futuro: temos de preparar os jornalistas para serem multiplataforma, multimédia, têm de saber produzir vários tipos de conteúdo”, afirma o vice-reitor da UBI, João Canavilhas, que elogia a empregabilidade: “Os níveis de empregabilidade são bons, mas não sei se os que concluíram Jornalismo estão a trabalhar em Jornalismo”.
Haverá então, a prazo, uma crise de profissionais de jornalismo? Não. Ao concurso que o Público abriu para um jornalista multimédia, em 2014, apresentaram-se cerca de 400 candidatos. Como conclui José Rebelo, o problema não será este, pois ainda existe um “exército de reserva muito grande”.
Créditos da fotografia: Pixabay, byrev
Tags:emprego, género, Journalismo