Na esteira dos ataques terroristas em Paris e Bruxelas, é cada vez mais reconhecido que o terrorismo pode afectar as organizações de notícias situadas perto de casa, bem como no campo e que as redacções têm que estar preparadas para cobrir os incidentes terroristas.
A maior parte das organizações estão habituadas a fazer planos e a tomar decisões logísticas e de implantação. É o que fazem. Cada vez mais compreendem os riscos da reportagem de conflitos ou os perigos de trabalharem em estados de falência e a necessidade de assegurar a formação e o apoio adequados ao seu staff.
As necessidades das redações
Contudo, aquilo que é menos reflectido são as necessidades das redações e sedes. Estas vão desde uma crescente consciência de um sofrido, trauma trazido pelo staff, ao terem que olhar para imagens perturbadoras dos Media Sociais ou de situações de conflito – e de como devem ser geridas e apoiadas – até aos planos e suporte que os gestores seniores devem ter no local.
O terrorismo pode afetar as organizações de informação diretamente – e, quando tal acontece, as consequências vão muito para além das físicas e imediatas.
Em 2001, pouco tempo após ter sido nomeado Diretor da BBC News, terroristas irlandeses colocaram um carro-bomba junto da redação nacional da BBC, que explodiu e destruiu o centro da operação de notícias da BBC. Graças a um alerta, nenhum membro da redação ficou ferido – mas o espaço demorou meses até ser reconstruído. Como havíamos realizado um prévio e extenso plano de crise, não perdemos o output de qualquer programa central.
Em 2007, o correspondente da BBC em Gaza, Alan Johnson, foi raptado. Toda a organização fico absorvida pelos esforços em divulgar a sua situação e trabalhar para libertá-lo. Isto envolveu não apenas os seus editores e o staff de notícias, mas também o Diretor Geral, que voou para o Médio Oriente para negociar com Governos e outros grupos.
Deste modo, o terror consegue, de diversas formas, atingir e despedaçar as operações das organizações de informação muito para além das questões de reportagem no local. É essencial – ao entramos numa era onde é expectável mais terror à nossa porta, onde quer que vivamos- que as organizações noticiosas reconheçam e se preparem para isto.
O que é um plano de gestão de crise?
Trata-se de um plano desenvolvido que antecipa algumas das decisões-chave que podem vir a ser necessárias, quem as comandará e quem será responsável por atividades claramente alocadas. Algumas das questões-chave poderão incluir:
1. Existem linhas claras de autoridades de emergência na redação e nas instâncias superiores ao longo da organização?
2. Tem circulado um plano claro, elaborado por escrito e discutido pelo staff (ou, melhor ainda, ensaiado)?
3. Existe uma clara alocação de responsabilidade pelas operações, pelas comunicações das partes interessadas, pelas comunicações internas e externas, pelas relações com os serviços de emergência?
4. As políticas editoriais estão preparadas para situações de rapto ou violência directa que afectem os funcionários?
5. É possível contactar, a todo o momento, todos os gestores seniores e pessoal?
6. Se o sistema telefónico falhar, qual a opção escolhida?
7. Quais as opções se a sala de redacção e/ou o controle máximo de computadores falhar?
8. Estão disponíveis dados recentes acerca do edifício e do pessoal?
Estas são apenas algumas das questões inicias e basilares que as organizações noticiosas têm que colocar e trabalhar ao detalhe se forem directamente envolvidos na história. Existem muitas mais que precisam de serem pensadas e desenvolvidas.
O planeamento de crises constitui um importante elemento de uma boa gestão – protegendo a organização e mitigando o risco e, igualmente importante, olhando para os melhores interesses do staff. Para o efeito, caem na categoria de segurança do jornalismo, assim como na formação em ambiente hostil. Todos esperamos que tal não aconteça. Muitos de nós sabemos que poderá acontecer.
Richard Sambrook é Presidente da “Board of the International News Safety Institute (INSI)”
Este artigo foi inicialmente publicado no website da INSI
Créditos da imagem: Flickr Creative Commons, Dave Stevenson