Fez esta semana 10 anos que o Twitter foi lançado, cheio de promessas. No início parece que conseguiu cumprir as expectativas: em 2011 os media saudavam esta rede social como a força democrática por de trás da Primavera Árabe. Atualmente o Twitter é mencionado por ser ser amplamente usado por grupos terroristas, como o Estado Islâmico (Isis), para espalhar ódio e o violência.
Nos últimos 10 meses o Twitter aumentou as suas equipas anti-terrorismo e fechou 125 mil contas, supostamente ligadas a terroristas islâmicos. Estes atos seguiram-se a queixas de que grupos extremistas usam a rede social para se gabarem dos seus violentos ataques, através de textos, fotografias e vídeo. Ou para disseminar interpretações enganosas do Corão, especialmente para audiências ocidentais.
Após as explosões que ontem tiveram lugar em Bruxelas, o Isis teria ordenado aos seus apoiantes para inundarem o Twitter com mensagens de apoio aos ataques.
A forte e por vezes simbiótica relação entre o terrorismo e os media é bem conhecida dos investigadores: sem a ajuda dos media, o choque e o medo do terrorismo permaneceria local.
Muito antes do 11 de setembro, o teatro do terror era um meio essencial para o terrorismo. A encenação dramática de violência e morte inspirou um pavor simbólico nos leitores, ouvintes e telespectadores dos media.
Na era do terrorismo mediado pelos mass-media (Nacos 2002) os jornalista não podem evitar facilmente reportar sobre o espetáculo do terrorismo (Livingston 1994), mas não precisam tornar-se altifalantes para as suas mensagens ideológicas.
Atualmente, os terroristas seguem as estratégias de sucesso de empresas profissionais e políticos de forma pérfida: em vez de explorarem os media apenas como um instrumento, eles contornam o jornalismo na sua totalidade, com a ajuda das redes sociais.
Ao evitar o filtro editorial eles disseminam não só as «lendas dos mártires» na Síria e no Iraque ou a doutrinação salafista, como mostra um estudo de Jytte Klausen (2015). O auto-proclamado estado islâmico usa instrumentos profissionais da indústria do entretenimento.
No passado, a indústria do entretenimento foi mobilizada para servir a propaganda de guerra. Agora, elementos dessa indústria – pop, rap, banda desenhada, séries de TV e videojogos, e até mesmo as famosas fotografias de gatos (#catsofjihad) – tornaram-se fulcrais para a estratégia dos terroristas no Twitter.
A técnica de navegar sob a bandeira de um país estrangeiro é bem conhecida na história da propaganda. Durante algum tempo o Isis usou hashtags populares ou enviou as suas mensagens através de app de telemóvel inócuas.
Não nos devemos enganar: o encaminhamento global de tweets aparentemente espontâneos e autênticos com origem no Médio Oriente é o resultado de uma pequena, mas bem organizada rede de ativistas na Europa.
Por isso, os tweets não são uma fonte em que os jornalistas possam ou devam confiar, por mais difícil que seja para jornalistas reportarem eles mesmo as histórias. Sem a amplificação dos mass-media o alcance do Twitter ainda é limitado (assim com os seus lucros).
Este artigo também será publicado no jornal alemão Tagesspiegel
Jytte Klausen (2015): Tweeting the Jihad: Social Media networks of Western Foreign Fighters in Syria and Iraq. Studies in Conflict & Terrorism, Vol. 38, S. 1-22.
Steven Livingston: The Terrorism Spectacle. Mass Media and International Terrorism. New York: Longman 1994.
Brigitte L. Nacos: Mass-Mediated Terrorism. The Central Role of the Media in terrorism and Counterterrorism. Lanham u.a.: Rowman & Littlefield 2002.
Fotos: EJO e Twitter