As Fake News numa sociedade pós-verdade: contextualização, potenciais soluções e análise

Junho 30, 2018 • Ética e Deontologia, Investigação, Jornalismo, Últimas • by

O relatório “As Fake News numa sociedade pós-verdade – Contextualização, potenciais soluções e análise”, do OberCOm, pretende identificar as principais dimensões das notícias falsas, que têm dominado grande parte do debate público sobre a verdade da informação, nomeadamente a partir do Brexit e das últimas eleições norte-americanas. Para tal, foi feito um levantamento dos principais conceitos que rodeiam a questão, utilizando, na parte mais prática, dados do Digital News Report 2018, do Reuters Institute or the Study of Journalism, para Portugal.

Simultaneamente ao debate público sobre a temática, ao longo dos últimos anos tem sido possível observar, em diversos media, um conjunto gradual de práticas baseadas na distorção mais ou menos voluntária de informação jornalística, a que se poderá acrescentar, de uma forma geral, a perda de confiança e de legitimidade em factos legítimos, como as estatísticas oficiais. Entre outros aspectos abordados no Relatório, como a própria manipulação do termo ‘fake news’ por agentes políticos de forma a desacreditar os media, é referida a importância do fator económico para o crescimento das notícias falsas. Várias instituições jornalísticas, seguindo um modelo ambíguo de negócio que se cruza com o da economia da atenção online, tendem a criar notícias com base no clickbait, o que traz questões sérias sobre a produção de conteúdos jornalísticos e a sua relação com aspectos éticos.

Abordagens às fake news através dos vários agentes políticos e privados

Para melhor compreender como as fake news têm sido académica e politicamente abordadas, são igualmente exploradas diversas formas de atuação pública e privada, com destaque para a área das políticas públicas. É analisado o que alguns países, como Itália e Alemanha, têm feito para lidar com as fake news, passando essencialmente pela criação de multas a organizações noticiosas ou à denúncia de conteúdos enganadores por parte dos cidadãos. No entanto, são também salientados alguns perigos concernentes à possível limitação de liberdade ou à própria dificuldade em identificar o que pode, ou não, ser considerado fake news.

A confiança nas notícias em Portugal

Partindo do inquérito Reuters, de 2018, o Relatório apresenta dados que contextualizam a situação portuguesa no que concerne às fake news, em especial tendo em conta a confiança estabelecida relativamente a informação e a instituições noticiosas.
O questionário revela a tendência para elevados níveis de confiança dos portugueses no que respeita às notícias que consomem e com que se deparam nos diversos media, sendo que, em 2018, Portugal assume-se como o país em que mais se confia em notícias (cerca de 62% dizem confiar). Mais concretamente, aliam-se a isto graus de confiança elevados quanto à maioria das instituições noticiosas, dos quais se destacam a RTP e o Expresso.

Pelo contrário, existe igualmente a tendência para que os portugueses olhem para a informação online com desconfiança, com 71% dos inquiridos a referirem que se preocupam com o que é real ou falso na Internet, sendo assim possível observar a existência de dois aspectos distintos que caracterizam a confiança dos portugueses: por um lado, uma maior desconfiança em relação à informação encontrada na Internet e nas redes sociais, e, por outro, níveis elevados de confiança no que respeita às instituições e marcas noticiosas.

Imagem: The Public Domain ReviewPublic Domain Mark 1.0 – No Copyright

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