Cerca de 12 meses após o referendo da UE e de seis meses após as eleições presidenciais dos EUA, ainda pouco sabemos sobre o impacto, se o houver, de bots, fake news e targeting de eleitores sobre esses significativos eventos políticos.
No entanto, pelo menos para as organizações de Media, a resposta deve ser clara: os meios de comunicação devem contratar mais especialistas com mestrados e doutoramentos em disciplinas como a Ciência Informática, a Física, a Estatística e a Matemática. Na era dos global cyber-attacks, Cambridge Analytica, political bots e algoritmos que disseminam desinformações numa escala sem precedentes, as competências tradicionais de jornalismo já não são suficientes para informar sobre esses complexos problemas.
Os Media do futuro necessitam das pessoas certas
A razão de ser é direta. Mesmo para cientistas que pesquisam sobre estes tópicos, estar atualizado em relação aos últimos desenvolvimentos ou ser deixado ao abandono ao escrever sobre eles, pode ser um desafio. Como poderá um jornalista especializado, por exemplo, em Inglês ou Política (sem se pretender ofender alguém), esperar compreender profundamente a míriade de subtilezas relevantes nesses contextos?
Não constitui uma surpresa que pessoas como John Naughton, Zeynep Tufekci, ou Hannah Fry escrevam de modo tão talentoso sobre a Internet, os computadores ou a Ciência de dados; eles passaram anos a investigar e a tentar compreendê-los.
Acredito que seria mais fácil ensinar um cientista qualificado a escrever artigos perspicazes e acessíveis do que transformar um jornalista num especialista genuíno, por exemplo, quanto à aprendizagem automática.
Isto não significa que escrever seja fácil. Escrever peças concisas e envolventes para uma audiência global é uma habilidade que não é acessível a todos. Pode ser um processo árduo e doloroso. No entanto, provavelmente é mais fácil de aprender do que as complexidades da Ciência das redes ou algoritmos – e, se tudo mais falhar, os editores podem polir a escrita.
Uma questão reside, claramente, no pagamento. Os cientistas dotados desse conjunto de capacidades cada vez mais exigentes podem facilmente requerer salários elevados, provavelmente mais do que ganhariam na esfera do jornalismo. No entanto, esse dilema não altera o argumento básico: os especialistas são urgentemente necessários. Agora, mais do que nunca.
Um relatório da BBC, de 15 de Maio de 2017, adverte que o recente ciber-ataque pode ser o primeiro de muitos.
Escolhendo as batalhas certas
As organizações de informação estão sujeitas a uma enorme pressão, dada a diminuição das suas receitas. Elas encontram-se igualmente assombradas por um declínio do seu património central – a confiança do público. Muitas foram forçadas a pensar como recuperar a sua posição enquanto fontes de informação de confiança.
Escolher a batalha certa será a ideia chave. Cessar a propagação da desinformação (também conhecida como “fake news”) é incrivelmente difícil e as instituições noticiosas não conseguem tapar esse buraco por si mesmas (isto deixando de parte a questão de saber se as fake news constituem um problema que precisa de ser controlado).
Não obstante, algo que não irá mudar, independentemente da tempestade dentro da qual o jornalismo se encontra nos dias que correm, é a necessidade de uma análise precisa, rigorosa e informativa.
A indústria deverá concentrar a sua atenção aqui. Especialmente quando se tratam de tópicos que ligam a sociedade, a tecnologia e a política – ciber-segurança, análise de big data, vigilância, desacreditação de leaks, apenas para citar alguns. É vital que o público compreenda verdadeiramente as suas implicações.
O Jornalismo precisa do melhor da Ciência e do Jornalismo
Os Media não podem forçar as pessoas a auto educarem-se sobre estas questões. A ignorância ou a indiferença serão sempre difíceis de superar e não é função do jornalismo resolver estes problemas. Também é verdade que a capacidade especializada tem sofrido alguma má reputação ultimamente, graças às alegações, não menos relevantes, de que as pessoas “tiveram especialistas que chegue”. Neste clima, pode parecer imprudente contratar ainda mais.
Mas se, no nosso quotidiano, confiamos quase tudo a especialistas, desde contabilistas a mecânicos, então por que razão não deveremos fazê-lo quando se trata de jornalismo? Eventualmente, o facto de trazermos mais cientistas pode não recuperar aqueles cuja confiança nos Media já se perdeu.
O que pode fazer-se, contudo, é ajudar aqueles que se encontram sobrecarregados, no sentido de os actualizar quanto aos últimos desenvolvimentos sócio-tecnológicos. O jornalismo pode fornecer factos, figuras e opiniões de indivíduos que detêm um profundo conhecimento sobre o assunto. Especialistas que podem colocar as coisas em contexto e vê-las num ambiente mais alargado.
Este comentário é não apenas um apelo ao jornalismo, para que preencha as suas fileiras com um maior número de cientistas, é também um apelo aos cientistas para que peguem nos seus instrumentos e se envolvam. Agora, mais do que nunca, o jornalismo precisa do melhor dos dois mundos.