O jornalismo de dados em Portugal, Roménia, Hungria e Alemanha

Novembro 20, 2018 • Jornalismo • by

O jornalismo de dados e a visualização de dados têm vindo a tornar-se cada vez mais importantes na paisagem do jornalismo, enquanto a maioria dos jornalistas precisa ainda de adquirir competências nas áreas da recolha, organização, analise e visualização de dados a um nível mais avançado. O relatório levado acabo no âmbito do projeto NEWSREEL destaca o papel do jornalismo de dados nos quatro países parceiros do projeto e como essa área está refletida no ensino superior da Alemanha, Hungria, Portugal e Romênia.

Jornalismo de dados nos media

O relatório conclui que o jornalismo de dados precisa ser melhorado nos quatro países do NEWSREEL. Embora existam algumas boas práticas em todos eles, o número de jornalistas de dados é muito baixo, mesmo na Alemanha, que tem o maior número de jornalistas de dados entre os países parceiros (cerca de 50). Esse número contrasta fortemente com a realidade húngara, onde apenas um jornalista se autodenomina jornalista de dados.

Circunstâncias difíceis

As principais dificuldades apresentadas na prática do jornalismo de dados são a falta de tempo, recursos e fontes de dados de qualidade, bem como a escassez de competências técnicas. De acordo com um especialista húngaro, Attila Bátorfy, os grandes jornais dos países da Europa Ocidental poderiam formar equipas de jornalismo de dados, mas os seus homólogos na Hungria têm que fazer toda a programação, extração de dados, análise, interpretação e visualização de dados por conta própria . Além disso, o acesso limitado aos dados impede, muitas vezes, os jornalistas de fazer esse tipo específico de jornalismo.

Embora o jornalismo de dados acabe por ser caro, sobretudo devido à necessidade de mão de obra intensiva e qualificada, ele é aplicado principalmente por organizações de media sem fins lucrativos em todos os lugares, que geralmente cooperam com veículos de media independentes e inovadores.

Tipos de jornalismo de dados

As diferentes sínteses nacionais, do relatório, indicam que o jornalismo de dados é usado principalmente em trabalhos de investigação, económicos ou políticos, como por exemplo artigo sobre as eleições. Na Alemanha, o jornalismo de dados aparece também no campo do entretenimento, como o desporto.

Das entrevistas com jornalistas alemães e portugueses, depreende-se que grande parte do trabalho em jornalismo de dados está vinculado ao jornalismo investigativo colaborativo, como no caso dos Panama Papers, onde havia enormes quantidades de dados e uma grande equipa tinha que colaborar .

Na Hungria e em Portugal, existem apenas alguns exemplos de jornalismo de dados, enquanto na Alemanha existem muitos projetos de jornalismo de dados. Na Alemanha há essencialmente dois focos para o jornalismo de dados: um é o jornalismo de dados mais focado na visualização de informação, como o praticado pelo Berliner Morgenpost por exemplo. O outro é uma espécie de jornalismo de dados investigativo, que pode ser observado nas trabalhos / projetos do Süddeutsche Zeitung, BR Data ou Correctiv.

Jornalismo de dados no ensino superior

Em todas os países do NEWSREEL, existem universidades que oferecem cursos de jornalismo de dados, no entanto, existem grandes diferenças na importância que lhe dão.

Ampla oferta na Alemanha

Não é surpreendente que a Alemanha lidere em relação aos cursos universitários de jornalismo de dados. Aqui encontramos cursos de jornalismo de dados em todos os seis programas de jornalismo, no entanto, a quantidade de conhecimento e prática adquiridos são muito diferentes (isso também é válido para a oferta de outros países parceiros). No nível de bacharelado, no programa de jornalismo científico da TU Dortmund University, o jornalismo de dados tem um papel significativo. Outras faculdades de outras universidades têm módulos e workshops ou integram alguns aspetos do jornalismo de dados no seu currículo. Os departamentos de Hamburgo, Dortmund e Colónia estão ansiosos para aprimorar sua oferta de jornalismo de dados no futuro.

Oferta adequada na Roménia

Na Roménia, a Universidade de Bucareste e a Universidade Babeș-Bolyai oferecem cursos de nível básico e avançado na área da recolha de dados. Na Universidade de Bucareste, existem ainda cursos de jornalismo de dados tanto ao nível de licenciatura como de mestrado. O Departamento de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade Alexandru Ioan Cuza também oferece um curso de jornalismo de dados. Na Universidade Lucian Blaga, por outro lado, não existem cursos especificamente de jornalismo de dados, mas alguns elementos do jornalismo de dados estão integrados ao curso de jornalismo online. A West University of Timișoara fornece apenas os fundamentos do jornalismo de dados. Até o momento, a Universidade Spiru Haret não oferece curso algum de jornalismo de dados.

Pequena oferta na Hungria e em Portugal

A Hungria tem apenas duas universidades onde o jornalismo de dados está disponível como um curso independente: na Budapest Metropolitan University e na Eötvös Loránd University, e é o mesmo jornalista de dados que ensina os alunos em ambas as instituições. Alguns elementos desta área também são ensinados noutros outros programas, integrados noutros cursos, como ‘Tecnologias de apresentação’ (Universidade de Debrecen). Na Universidade Católica Pázmány Péter, os alunos têm a possibilidade de aprender sobre infografias. A Universidade de Szeged, está procura de alguém para o ensino de jornalismo de dados, mas não há pessoal adequado disponível.

Em Portugal, o jornalismo de dados, enquanto curso específico, só é oferecido no programa de pós-graduação de Jornalismo do ISCTE-IUL. O curso visa fornecer conhecimentos básicos que vão desde a escolha das fontes corretas, tratamento e análise de dados para visualizar dados e contar histórias com eles. Outras universidades oferecem alguns cursos de visualização, por ex. da Universidade Autónoma de Lisboa, mas têm um enfoque mais amplo, incluindo infografia impressa. Nalgumas universidades existem workshops ou projetos jornalísticos ligados a esta área (como a Universidade do Minho).

Foto: Neerav Bhatt – Flickr

Print Friendly, PDF & Email

Send this to a friend