Como Hillary Clinton descobriu à sua custa nas últimas eleições norte-americanas, os emails continuam a ser uma força poderosa na vida moderna. Muito pela relutância da antiga Secretária de Estado em abandonar o seu Blackberry () e não usar o servidor seguro do Governo, muitas das suas mensagens eletrónicas deixaram-na exposta a ataques políticos do seu rival.
E tal como foram caindo por terra as suas alegações de que os emails não continham material incriminatório, também não vingaram os esforços dos media mainstream que tentaram fazer fact-checking e dar uma reportagem equilibrada sobre o assunto (e muito mais). O jornalismo tradicional está a enfrentar o crescente domínio de argumentos parciais, e mesmo falsidades, publicadas no Facebook.
Isto tem desencadeado uma discussão acesa sobre o papel da ponderosa rede social, incluindo o perigo potencial dos seus algoritmos – deixando à sua mercê o staff editorial júnior que emprega – na prioritização, circulação e distorção da informação de interesse público. Uma realidade que também vem reforçar o valor de contrapeso dos emails editoriais que mediam as notícias e análises.
Como descobri num novo estudo do Reuters Institute for the Study of Journalism, um crescente número de organizações de media têm reinvestido em newsletters por correio eletrónico, desde grupos de imprensa escrita “tradicionais”, como o New York Times e o Financial Times, até nativos digitais como o BuzzFeed e a Apple News.
Há pelo menos duas razões. Primeiro, apesar das suas muitas limitações, os emails proporcionam aos leitores conteúdo válido e conciso orientado pelo discernimento da experiência editorial. Segundo, são uma forma de manter uma relação direta entre os leitores que estão sobrecarregados pela informação e pelos múltiplos canais de distribuição dos media, e, em alternativa, se estão a virar por defeito para os media sociais.
Os emails estão a um meio caminho híbrido entre o impresso e o digital, oferecendo muitas das vantagens e inconvenientes de ambos. Tal como os artigos impressos em papel, os emails não podem ser diretamente corrigidos, atualizados ou facilmente modificados depois de enviados. Os emails oferecem um layout restrito e finito que pode incluir algumas imagens mas raramente consegue integrar “conteúdo dinâmico” mais sofisticado como o vídeo.
Mas tal como os meios impressos (e as apps), os emails são meios autónomos, proporcionando um modo de leitura offline depois de recebidos sem a necessidade contínua de sinal telefónico ou wifi. Este factor pode ajudar a oferecer ao leitor um acesso mais alargado, mais fácil e mais económico sempre que ele se encontre em locais sem roaming, sem ligação ou em pontos com fraca largura de banda.
As suas limitações também estimulam o foco e a inovação, com um formato e seleção limitada de conteúdo que ajuda os leitores na “descoberta” de artigos numa era de sobrecarga de informação; a curadoria do conteúdo e o contexto envolvente preparado por jornalistas; o critério na seleção de uma variedade de diferentes artigos; e a garantia de “conclusão”, uma vez que os leitores dedicam um tempo limitado à leitura.
À semelhança dos produtos digitais, os emails têm menores custos de produção e distribuição do que o material impresso. Oferecem maior interatividade, sobretudo através das hiperligações para conteúdo relacionado. Geram dados de valor para as redações, incluindo dados sobre a proporção de destinatários que os abriram para ler e de leitores que clicaram em cada um dos links referenciados no artigo.
Numa altura de mudança rumo ao conteúdo distribuído no Facebook, os emails proporcionam um meio de os grupos de media manterem a ligação direta aos seus leitores e reterem valor e receita. Quando integrados com sistemas de registo de leitores, e metainformação para classificar conteúdo associado, os emails podem ajudar a construir um perfil alargado dos hábitos de navegação dos utilizadores e proporcionar análises detalhadas e recomendações personalizadas. Eles são, por defeito (e mais do que muitos outros produtos digitais), uma forma de notificação “push”, tornando a comunicação com os leitores uma parte integrante do seu workflow diário.
Comparados com outros media digitais, os emails padecem dos níveis relativamente baixos de investimento, capacidade tecnológica e suporte, são geralmente ofuscados por plataformas digitais mais recentes, inovadoras e mais apelativas e estão limitados por constrangimentos regulatórios. Os emails também são menos apelativos para as gerações mais novas de leitores que estão mais viradas para as redes sociais.
A longo prazo, a não ser que os próprios emails evoluam ou que os utilizadores mais novos adiram a eles à medida que vão ficando mais velhos, isso poderia ditar a sua morte como canal de distribuição para as organizações de media. Mas as suas características e o valor que eles oferecem – centrado na avaliação jornalística, mediação e ligação direta aos leitores – merecem ser retidos.
Créditos fotografia: Flickr CC licence Andy Langager
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