O jornalismo é cada vez mais importante, mas também mais frágil. Esta é a principal conclusão de um relatório que acaba de ser publicado pelo Reuters Institute for the Study of Journalism (RISJ), da Universidade de Oxford, que identifica as cinco principais tendências do jornalismo nos próximos anos e a forma como elas podem afetar a sociedade como um todo.
Com o título ‘More Important, But Less Robust? Five things everybody needs to know about the future of journalism,’ este relatório sublinha os riscos decorrentes de uma crescente desigualdade no acesso às notícias, aborda a questão complicada dos modelos de negócio dos meios de comunicação e contextualiza o papel das plataformas e redes sociais. O estudo concluiu igualmente que, ao contrário do que normalmente se supõe, o consumo de informação por via digital proporciona uma dieta informativa mais rica e diversificada, e sugere que, apesar dos desafios que se lhe colocam, o bom jornalismo que se faz hoje está melhor do que nunca.
As cinco principais conclusões do relatório agora publicado são decorrentes de pesquisas recentes realizadas no RISJ. Por detrás dessas conclusões estão mudanças na forma como os indivíduos acedem às notícias, transformações na profissão jornalística e no negócio dos media, assim como alterações do espetro político em alguns países.
As cinco tendências apontadas por Rasmus Kleis Nielsen e Meera Selva, os autores do estudo, são as seguintes:
- Mudámos definitivamente de um mundo em que os meios de comunicação social atuavam como ‘gatekeepers’ para um outro em que ainda são eles que maioritariamente estabelecem a agenda, mas as plataformas é que controlam o acesso às audiências.
- Na maior parte dos casos, esta transição para o digital não gera as chamadas ‘bolhas informativas’ ou ‘filter bubbles’, como habitualmente se diz. Em vez disso, o que a pesquisa demonstra é que a diversidade de conteúdos e a exposição acidental a informações diferentes leva os indivíduos a contactarem com fontes de informação em maior quantidade e diversidade.
- Em muitos casos, o jornalismo está a perder a batalha pela atenção dos indivíduos e, nalguns países, inclusivamente, pela sua confiança.
- Os modelos de negócio que sustentam o jornalismo estão ameaçados, o que enfraquece a profissão e coloca os jornalistas numa posição mais frágil e vulnerável face às pressões económicas e políticas.
- Mas as notícias são cada vez mais diversificadas e, na verdade, o bom jornalismo que se faz hoje em dia é melhor que nunca, afrontando todos os poderes, desde as autoridades políticas aos grandes grupos económicos.
O relatório argumenta que estas cinco grandes tendências irão continuar a marcar o mundo nos próximo anos, embora com variações de país para país e de região para região, em função do contexto cultural, económico, político e social de cada uma.
Rasmus Kleis Nielsen, coautor do estudo, afirmou: “A digitalização dos media traz muitos desafios ao jornalismo e às nossas sociedades, mas também traz oportunidades significativas, quer para os produtores de notícias, quer para o público. O desafio que se coloca aos jornalistas e aos meios de comunicação social é o de continuarem a adaptar-se ao paradigma digital que a maior parte das pessoas em todo o mundo estão a preferir face aos tradicionais meios analógicos e desenvolver novos modelos de negócio e novas formas de exercer a sua profissão.”
Meera Selva, por seu lado, referiu que “o papel desempenhado pelo jornalismo em várias situações, nomeadamente no movimento #MeToo, na denúncia de corrupção entre os políticos e no debate público acerca das plataformas” e do seu poder e ameaças à privacidade, é a melhor prova de que o jornalismo continua ser muito relevante nos tempos que correm.
O relatório integral pode ser descarregado no site do Reuters Institute for the Study of Journalism.
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