Digital News Initiative: Como a Google está a mudar o negócio dos media

Setembro 29, 2015 • Negócio, Últimas • by

A Google está a tentar unir os media mais influentes, mas os críticos temem que a monopolização do mercado da pesquisa online possa vir a acentuar-se ainda mais. Este ano, a empresa lançou um novo projeto denominado Digital News Initiative. A iniciativa junta as organizações de media de âmbito global, como o The Guardian, Die Zeit and Financial Times, num grupo de trabalho que visa promover o jornalismo na era digital. O projeto provocou algum alvoroço na Europa, especialmente na Alemanha, onde a Google tem sido acusada de monopolização e uso ilegal dos conteúdos dos media. Estivemos com Ralph Bremer, gestor politico de RP da Google em Berlim, que nos falou sobre a empresa e sobre os seus objetivos no setor dos media.

“A iniciativa Digital News Initiative pretende unir os media para que consigam rentabilizar melhor os seus conteúdos na era da Internet. Em particular, eles estão a trabalhar em conjunto para promover os seus conteúdos nas plataformas Google e isso vai-lhes permitir aumentar o tráfego e fazer mais dinheiro,” afirma Bremer.

A iniciativa juntou cerca de cem organizações de media de todo o mundo. A essência do projeto visa colocar os gigantes dos media a trabalhar em conjunto para criar aplicações e outros produtos. Os exemplos incluem a utilização de aplicações de vídeo em ambientes móveis e a monetização dos conteúdos através dos mecanismos de pesquisa e publicidade da Google. A iniciativa também financia inovações e novos media digitais que estão prestes a ser lançados. Em particular, a Google têm investido 150 milhões de euros em financiamento a várias start-ups na área do jornalismo.

“Num mês, só os media na Alemanha geram mais de 500 milhões de cliques. No entanto, para eles é difícil competir com as redes sociais,” defende Bremer. Por isso, a cooperação com a Google pode ajudar os profissionais de media a aumentar o número de hits e o volume de lucros, além de permitir testar novas plataformas de desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, os críticos da Google defendem que a iniciativa não passa de um tentativa de branquear a imagem da empresa, que tem vindo a degradar-se na Europa Ocidental. Anteriormente, a Google já estava a ser acusada de monopolizar o mercado da pesquisa (cobrindo mais de 90% desse mercado) e de utilizar informação no Google News sem autorização. As maiores empresas de media criticaram a Google pela distribuição e utilização das suas notícias na tab do Google, retirando aos utilizadores a necessidade de visitar os websites noticiosos. Por isso, muita gente encara este novo projeto da Google com algum ceticismo.

“A Internet precisa do conteúdo jornalístico. Foi por isso que nos associámos de boa vontade à iniciativa que nos foi proposta pelos próprios trabalhadores dos media. É um dos projetos em que começámos ser conhecer o objetivo final,” garante Bremer. A iniciativa é benéfica em primeiro lugar para os jornalistas que, em vez de lutarem contra a Google, podem aproveitar as oportunidades que a iniciativa proporciona. Caso as grandes empresas de media venham a cooperar com a iniciativa, a empresa pode monopolizar o mercado ainda mais e enfraquecer os concorrentes mais pequenos da Google.

Bremer falou sobre o facto da Google trabalhar em países onde os media não têm liberdade de expressão e onde é exercida pressão sobre os jornalistas. «Em 2010, lançámos o nosso Transparency Report que fornece dados relativos à liberdade da Internet em cada país. Em particular, publicamos a informação que revela quantas vezes nos é solicitada a entrega de dados sensíveis ou a remoção de determinados recursos do motor de busca,”, afirma. Se o pedido do governo tem uma razão legítima, a Google fornece a informação solicitada. Nos casos em que não há exigência legal, a empresa recusa. “Concordamos com 40% a 50% das solicitações,” afirma Bremer.

Esta política da Google tem motivado críticas constantes pelo facto da empresa estar presente em estados autoritários onde as leis nem sempre protegem os direitos dos cidadãos. Um dos exemplos é a China, onde a Google operou até 2010 e forneceu às autoridades a informação solicitada, mesmo quando as solicitações incidiam sobre ativistas políticos ou afetavam a liberdade de expressão. “Na China enfrentámos muitos problemas políticos, por isso deixámos esse mercado. É complicado trabalhar em sítios onde a Internet não é livre. Foi por essa razão que começámos a desenvolver o Transparency Report para mostrar o nível de liberdade da Internet nos diversos países,” afirma Bremer.

Apesar da Google ter encerrado a sua sede na China, a empresa continua a trabalhar em outros países autoritários e não-democráticos, onde corre o risco de abrir mão de informação importante sempre que as autoridades o exijam. Entretanto, a criação da iniciativa Digital News Agency e as respostas às críticas demonstram que a empresa compreende a importância da informação na era digital e a necessidade de a disponibilizar com a maior brevidade para manter as pessoas interessadas. A iniciativa da Google permitirá à empresa juntar os principais media a nível mundial e, assim, atrair mais utilizadores. Claro que a cooperação com a Google não significa que os media deixarão de criticar a empresa. No entanto, o facto de uma das organizações mais influentes do mundo estar interessada em financiar projetos de media revela que a capacidade de difundir informação mais rapidamente do que os outros é muito importante no mundo dos negócios. Mesmo para gigantes como a Google.

Fonte: publicado inicialmente no EJO Ucrânia. Traduzido do artigo em inglês.

Crédito da Foto: Flickr, Carlos Luna

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