Jornalistas e Visualização de Dados: Haverá espaço para ambos na redação?

Outubro 26, 2015 • Jornalismo digital, Top stories • by

Quando recentemente a redação de Londres do The Guardian foi reorganizada, a «àrea de visualização», que produz infografias e projetos de dados, tornou-se numa parte chave da sua operação digital, em conjunto com as áreas de «notícias», «ao vivo» e «audiências». Numa altura em que nem todos os meios de informação revelam tanto entusiasmo quando se trata de integrar a produção de artigos editoriais com elementos de visualização de dados, o exemplo do The Guardian ilustra o crescente entusiasmo pelo storytelling visual nas redações um pouco por todo o mundo.

A disponibilidade de «big data» e o crescente foco na linguagem visual tem impulsionado o interesse dos jornalistas pela visualização. As redações estão a contratar mais designers e a testar novas formas de storytelling visual.

Mas ao mesmo tempo que a visualização da informação parece estar a ganhar terreno permanente nas redações, a maior parte dos media tradicionais estão a descobrir que, na prática, conciliar as histórias noticiosas com elementos de visualização ainda é difícil.

O paper que publicámos recentemente, «Working with, or next to eachother? Boundary crossing in the field of information visualization», baseia-se numa investigação etnográfica intensiva. Analisámos o processo de produção de uma série de elementos de visualização editorial e constatámos que a tensão na colaboração entre o designer e o jornalista impedem geralmente os jornais de produzirem visualizações eficientes.

Um desfasamento entre o artigo e o visual

Os designers têm dificuldade em aplicar os princípios jornalisticos às suas visualizações, ao passo que aos jornalistas falta a experiência para adaptar as regras do design às suas histórias.

Um designer disse-nos que: «Os jornalistas chegam com questões impossíveis, [pedindo-nos por exemplo] para fazer a visualização de conceitos abstratos como “aleatoriedade” ou “capacidades inatas”».

Também ouvimos que os jornalistas se mostram muitas vezes indignados pelas soluções de visual simplista propostas pelos designers. «Eles nunca me supreendem com os seus gráficos», reclamou um jornalista. «Eles geralmente propõem algo semelhante ao que eu já tinha em mente».

As visualização são geralmente encaradas mais como mero suporte às histórias noticiosas. Primeiro surge a história, depois o gráfico. Os designers raramente são envolvidos na produção de notícias, sendo solicitados com maior frequência apenas para executar aquilo que o jornalista pede.

Um designer descreveu a diferença hierarquica nos seguintes termos: «A forma típica de um jornalista nos consultar é permanecendo atrás da nossa secretária, a olhar por cima do nosso ombro, enquanto eu me sento ao computador e tento visualizar o que ele tem em mente».

Textual versos visual

No geral, as colaborações acontecem quando a história é construída a partir de um ponto de vista textual e onde as pessoas «do texto» dominam os profissionais da área visual. «É o jornalista que decide sobre a história, e o designer acrescenta-lhe o elemento visual».

O resultado pode traduzir-se numa história sem coerência em que o texto e o visual não têm ligação entre si. Ou seja, cada um destes elementos contam uma história diferente.

O storytelling visual exige uma equipa interdisciplinar construtiva que envolva jornalistas e designers. As visualizações mais complicadas e interativas exigem ainda mais disciplinas, incluindo especialistas nas áreas dos dados e do software. O trabalho eficiente e efetivo num campo interdisciplinar só pode ser bem sucedido quando as partes envolvidas se encontram na mesma página em que a história tem de ser contada antes de iniciada a produção. E isto começa com a identificação do papel e da especialização de cada um, descobrindo uma base de entendimento comum.

Este passo pode parecer auto-evidente na teoria, mas a nossa investigação revela que não é comum na prática quotidiana.

Parte desta investigação foi publicada no Media Innovations and Digital Journalism.
Esta investigação foi conduzida pelo grupo de investigação «Every Picture Tells a Story» relacionado como o grupo de investigação Crossmedia Journalism da Applied University of Utrecht da Netherlands [http://www.journalismlab.nl/] .

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