Jornalismo Imersivo, (Re)Viver as Notícias

Maio 28, 2015 • Jornalismo digital • by

“Usar técnicas de transmedia para fazer os leitores imergirem nas histórias jornalísticas com o seu eu virtual”: numa frase, isto é o jornalismo imersivo, segundo James Pallor, o co-fundador do Emblematic Group, uma empresa multimédia que espera re-inventar o futuro do jornalismo através de imersão da peça jornalística num cenário de realidade aumentada e virtual.

A abordagem do Emblematic Group à produção de notícias pretende dar às pessoas a possibilidade de entrar no ambiente e no contexto onde a notícia acontece. A partir de material real captado no local dos acontecimentos, é produzida uma versão digital dos acontecimentos reais «na primeira pessoa» para ser acedida através de um capacete de realidade virtual. Pallot, numa intervenção na recente conferência re:publica em Berlim, afirmou que o jornalismo imersivo pretende gerar «uma forte reação emocional» às notícias, ao provocar a sensação de «estar lá».

Um dos primeiros projetos de jornalismo imersivo remonta a 2007: «Gone Gitmo» proporcionar uma representação virtual das condições em que viviam os detidos na prisão de Guantanamo. O projeto foi criado com base nos registos dos interrogatórios de Mohammed al-Qahtani , obtidos com recurso a um pedido FOIA.

Ao usar um capacete de realidade virtual, os espectadores conseguem reviver a experiência perturbadora de estar presos numa cela em Cuba, incluindo a sensação de ser forçado a sentar-se numa posição dolorosa, tal como os detidos eram obrigados, segundo os registos dos interrogatório.

A experiência torna-se ainda mais realista com a inclusão de audio, replicando as vozes dos guardas e os ruidos da prisão. O objetivo deste projeto, segundo o relato de Pallot à audiência, era o de «recriar a experiência» tanto na primeira como na terceira pessoa, uma vez que, a certo ponto da experiência, ao olhar para o lado o espetador podia ver-se a si mesmo reflectido no espelho na pele do preso.

«Hunger in Los Angeles» é um projeto semelhante de 2012, originalmente encomendado a Nonny de la Peña pela University of Southern California e premiado no Festival Sundance.

Neste caso, também usando um capacete, os espetadores podem viver a experiência de estar na fila da First Unitarian Church na 6th Street em Los Angeles à espera de comida e assistência humanitária. A certa altura, um homem esfomeado cai no chão em coma diabética. O projeto é baseado numa notícia real e é um poderoso exemplo de storytelling em temas relacionados com a alimentação nos EUA.

Mais tarde, também o Embelmatic Group começou a usar mais conteúdo «gerado pelo utilizador» como fonte para o seu trabalho, começando pela peça «Use of Force».

O projeto é dedicado à história de Anastacio Hernandez Rojas, um migrante morto pela polícia na fronteira entre o México e os EUA. Neste caso, o cenário noticioso é «desenhado» em dois pontos de vista, proporcionados por duas peças de filmagens diferentes: uma captada na rua, perto do acontecimento, e outra captada a partir de uma varanda num plano mais superior.

Ao usar o capacete, o espectador é colocado na rua ou na varanda para ver o homem a ser espancado até à morte. O «duplo» virtual da vítima foi criado a partir de um scan 3D. Em janeiro passado, o projeto «Use of Force» foi destacado na BuzzFeed, que também o usou como experiência para testar as reações dos seus jornalistas à experiência do jornalismo imersivo e à sensação de «estar» dentro das notícias. Os resultados são muito interessantes também do ponto psicológico. Estes resultados têm vindo a ser compilados num vídeo apresentado por James Ballot na conferência re:publica.

O «Project Syria» é, provavelmente, o mais célebre trabalho de Nonny de la Peña e do Emblematic Group até à data. Foi originalmente encomendado para o World Economic Forum em Davos e é baseado em dois cenários diferentes do conflito na Síria. O primeiro deles mostra um ataque de um rocket que atinge um edifício em Aleppo, enquanto o segundo tem lugar num campo de refugiados sobrelotado e mostra as condições de vida da população residente.
No vídeo do strike aéreo, a equipa do Emblematic Group «recriou» as cenas a partir das filmagens originais UGC, incluindo uma filmagem vídeo captada na rua junto do edifício atingido. Além disso, as versões digitais das testemunhas foram criadas a partir do scan digital das testemunhas no local, tornando o resultado final ainda mais realista.

Na fronteira do documentário, o jornalismo imersivo é, sem dúvida, um dos cenários mais interessantes para o futuro do jornalismo. Segundo James Pallot, muito do futuro do jornalismo será formatado pela «sensação de estar lá» dentro das notícias e não só na reportagem em si. O futuro do jornalismo passará muito por «levar» ainda mais longe os limites do que chamamos «jornalismo».

Artigo traduzido do inglês, traduzido do original italiano.

Créditos foto: Philip Di Salvo / EJO

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