O jornalismo cobre bem a União Europeia (UE) – Para as elites. Os jornais globais, as agências noticiosas, as revistas especializadas, os websites e os think tanks, bem como a informação publicada pelas próprias instituições da EU, estão bem informados e são frequentemente críticos. Mas segundo um novo estudo, o público em geral não está tão bem servido.
O estudo “Cobertura da UE”, por John Lloyd e Cristina Marconi, concluiu que as redações acreditam que as suas audiências acham as histórias sobre Bruxelas muito aborrecidas e técnicas. Elas acham que falta algum drama a Bruxelas, ou personalidades conhecidas para chamarem a atenção, especialmente para os jornalistas de televisão. Os jornais mais populares raramente têm um correspondente permanente em Bruxelas.
O relatório, publicado esta semana pelo Reuters Institute for the Study of Journalism (RISJ) da Universidade de Oxford, revela que as recentes crises da UE tornaram a cobertura de Bruxelas mais emocionante e mais central nas agendas noticiosas. No entanto, muitos jornalistas, mesmo especialistas na UE, têm lutado para compreender a natureza da crise na Eurozona, e na Europa em geral. A complexidade da crise financeira e monetária, e os mecanismos desenvolvidos para lidar com eles, estavam para além da especialização de muitos dos repórteres.
O relatório também sublinha que a maior parte das organizações que cobrem a UE concentram-se naquilo que as propostas, debates e decisões significam para os seus leitores ou telespectadores. A cobertura da UE como centro de poder Europeu é menos frequente do que como um acrescento às políticas nacionais. As organizações de notícias globais representam normalmente a exceção a este tipo de cobertura.
Lloyd and Marconi, que entrevistaram jornalistas e autoridades da UE para a sua pesquisa, concluíram que os repórteres sediados em Bruxelas acreditam que à medida que mais partidos eurocépticos são representados na UE será cada vez mais interessante fazer a cobertura.
John Lloyd, Investigador Senior do RISJ e editor colaborador do Financial Times, e co-autor, disse: “Estamos à beira de uma época fascinante para o jornalismo a partir de Bruxelas. Foram eleitos políticos que têm uma reputação de serem críticos e populistas, inclinados para iniciar controvérsias e que usam uma linguagem abrasiva. Este tipo de comportamento é ouro sobre azul para os jornalistas que lutam para interessar os seus leitores em histórias sobre a UE”.
No entanto, apesar do otimismo há indícios de que o número de jornalistas em Bruxelas está a diminuir. Isto tem um impacto negativo nos Estados mais afetados pela recente crise na Eurozona, como a Grécia.
À medida que o seu número diminui, o «corpo» de jornalistas em Bruxelas também está cada vez mais cético e desligado. Os autores do relatório sublinham que nas primeiras décadas da UE o jornalismo era largamente positivo. Os jornalistas partilhavam a crença nos ideais e ambições para criar ‘uma ainda mais próxima união’: isto foi verdade também no primeiro período do Reino Unido. No entanto, desde 1980 que a cobertura tem vindo a ser mais negativa e a crise do euro tornou-a ainda mais crítica.
A cobertura fortemente eurocética é a ainda minoritária, e ainda dominada pelo Reino Unido – uma tradição iniciada nos anos 1980, sobretudo pelo Sun então editado por Kelvin MacKenzie, e pelo Daily Telegraph quando o seu correspondente na UE era Boris Johnson, atual Mayor de Londres. No entanto, vozes críticas – incluindo aqueles a favor de uma maior integração – estão muito mais destacadas: muitos correspondentes reportam que as suas audiências estão cada vez mais céticas, e mesmo hostis, em relação ao projeto europeu.
Os jornalistas entrevistados para o relatório deram críticas mistas ao serviço de imprensa da UE. A maioria dos assessores de imprensa são vistos como bem informados – mas os jornalistas também creem que eles são demasiado defensivos em relação ao criticismo e demasiado ‘ideológicos’ quando à missão da UE
Cristina Marconi, uma jornalista freelance que fez a cobertura de Bruxelas para um jornal italiano, disse que era importante que jornalistas continuasse a fazer a cobertura, e a questionar, a UE: “A União Europeia é poderosa, multi-nacional e tem sido e continua a ser o centro de aspiração, desafio, para a incorporação e difusão da governação democrática – assim como do ceticismo polémico, acusações de falhanço e fraca liderança. É o local perfeito para um jornalismo que tem o seu poder em conta”.
Créditos imagem: European Union 2011 PE-EP/Pietro Naj-Oleari
Traduzido do original em Inglês
Tags:assessoria de imprensa, cobertura jornalística, jornalismo, união europeia