Jornalistas começam cedo, são experientes e continuam muito ligados à imprensa e ao texto

Janeiro 13, 2017 • Investigação, Últimas • by

Os jornalistas inquiridos em 2016 entraram na profissão até aos 25 anos. Dois terços realizou apenas um estágio, com 58% a estagiar menos de seis meses, mas os estágios foram globalmente mal orientados. Dois terços têm mais de dez anos de experiência e mais de metade continua ligado à imprensa e à produção de texto, em especial notícias e reportagens. Quase metade produziu mais de 20 trabalhos nos últimos três meses, mas há 21,5% que apenas produziu três ou menos peças.

Estas são as primeiras conclusões sobre a atividade e percurso profissional dos jornalistas. Os dados foram obtidos em 2016 através do maior inquérito aos jornalistas já realizado em Portugal. Respondido por quase 1500 jornalistas (validados), foi desenvolvido por uma equipa do CIES-IUL (ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa), em parceria com o Sindicato dos Jornalistas e o Obercom, e o apoio da CCPJ. Este é o sexto grande estudo sobre os jornalistas e a atividade jornalística em Portugal produzido no âmbito do CIES/ISCTE-IUL, desde 1987.

Entrada na profissão

A maioria dos jornalistas inquiridos entrou na profissão entre os 21 e os 25 anos (63,7%). O segundo grupo mais numeroso é o dos mais jovens (até aos 20 anos, com 16,1%), seguido do grupo etário 26-30, com 13,6%. Apenas 6,6% iniciou a sua carreira jornalística depois dos 30 anos.

Segundo o I Inquérito Nacional aos Jornalistas Portugueses, realizado em maio e junho de 1990 por José Luís Garcia e José Manuel Paquete de Oliveira e apresentado no 1º Encontro Nacional de Jornalistas, em março de 1991, no início da década de 1990 a maioria dos jornalistas iniciou a atividade até aos 20 anos (51,8%), dos quais 12% antes dos 18. Entre os 21 e os 23 anos chegaram à profissão mais 29% dos jornalistas, e só 19,2% entraram na carreira com 24 anos ou mais.

Mais de metade (52,1%) dos inquiridos em 2016 exerce a profissão há mais de 15 anos. Se acrescentarmos os 14,9% que exercem a profissão no intervalo 11-15 anos, observamos que 67% dos jornalistas tem mais de dez anos de experiência. Dos 33% com até dez anos de profissão, a maioria (17,9%) exerce há menos de cinco anos, sugerindo que nos últimos cinco anos há mais entrada na carreira do que nos cinco anteriores.

Em 1987, de acordo com o primeiro estudo sociológico sobre a atividade jornalística em Portugal, “Elementos para uma Sociologia dos Jornalistas Portugueses”, publicado em 1988 por José Manuel Paquete de Oliveira, eram 16,6% os jornalistas com menos de seis anos de experiência. Em 1990, mais de um terço dos jornalistas exercia a profissão há menos de seis anos (35,9%), e só 28,9% há mais de 15.

Mais de dois terços (69,2%) dos inquiridos em 2016 necessitou de realizar apenas um estágio para entrar no jornalismo, e apenas 9,5% realizou 3 ou mais estágios, o que contraria a perceção de que os candidatos a jornalista saltam de estágio em estágio: 31,8% necessitou de menos de três meses de estágio para iniciar a sua carreira, e 58% menos de seis meses.

As percepções dos jornalistas inquiridos sobre o seu estágio de acesso à profissão denota várias falhas no processo, com uma grande percentagem a indicar falta de acompanhamento, avaliação ou cumprimento de horários. Apenas 40,8% foi avaliado através de um parecer final do orientador ou editor, o que significa que quase 60 por cento não teve indicações globais sobre o seu desempenho. Se a este dado agregarmos os 46,1% que afirmam não ter tido apoio ou orientação sistemática, os 40,5% cujas peças não eram revistas e os 42,4% que nunca acompanharam um profissional em reportagem, podemos concluir que uma parte muito significativa dos candidatos a jornalista não foi devidamente orientada.

Atividade profissional

A maioria dos jornalistas inquiridos é redator/repórter (58,9%), mas há grupos importantes de fotojornalistas (7,7%) e repórteres de imagem (6,8%). É relevante o número de jornalistas que ocupam cargos de direção (6,8%), chefia (4,2%) ou edição (11,3%), num total de 22,3%.

Em 2016, os jornalistas continuam a ter como meio principal de publicação a Imprensa. São 46,5% os inquiridos que indicam imprensa como atividade principal (havendo ainda 8,7% que produzem para a imprensa como atividade secundária). Isto significa que mais de metade dos jornalistas continua ligado à imprensa.

O jornalismo online (site) ocupa já a segunda posição para a atividade profissional dos jornalistas (23,1%), sendo também aquela mais expressa como atividade secundária (15,9%), o que indica que 39% dos profissionais publica em sites. A televisão ocupa ainda mais de um quinto dos jornalistas (20,3%) e a rádio 12,4%. São 8,4% os jornalistas de agência noticiosa.

O texto continua a ser o tipo de conteúdo mais produzido (63,1%), de acordo com os jornalistas inquiridos em 2016. Só 12,4% está mais dedicado à produção de vídeo, 8,8% à fotografia e 8,6% ao áudio, o que denota uma profissão ainda muito monomedia.

As secções ou especialidades a que os jornalistas mais se dedicam (não de forma exclusiva) são Sociedade (30,5%), Desporto (27,8%), Arte e Cultura (27,2%), Local/Regional (26,4%), Política (24,2%) e Economia (23,2%). Destes dados destaca-se o facto de o Desporto mobilizar mais profissionais do que a Política ou a Economia. É igualmente relevante que Artes e Cultura, temática que raramente faz manchetes ou é destaque em órgãos generalistas, ser o terceiro tipo de conteúdo mais mencionado. Mais de um quarto dos inquiridos (26,4%) dedica-se à informação local ou regional (seja em meios locais ou nacionais).

Como seria expectável, o formato de conteúdo mais produzido pelos jornalistas inquiridos são notícias (69,9%), mas 53,9% afirma produzir reportagens e 38,7% entrevistas, o que pode indicar que os jornalistas saem com frequência das redações.

Quase metade dos jornalistas inquiridos (46,5%) produziu mais de 20 trabalhos nos últimos três meses, o que revela uma atividade continuada. No outro extremo há 21,5% de profissionais que apenas produziu três ou menos trabalhos, o que denota uma atividade irregular e dificilmente suficiente para assegurar a sua subsistência. Não parece haver uma relação direta forte entre o número de trabalhos produzidos e os rendimentos, exceto entre os jornalistas com menor rendimento.

Entre os jornalistas inquiridos, 16,5% desenvolve outras atividades remuneradas em paralelo com o jornalismo. Destes, um terço (33,7%) desenvolve atividades de ensino ou formação, 25,9% está ligado a comércio ou serviços e 13,5% dedica-se a escrita, revisão ou tradução.

Só 13,3% dos inquiridos afirma ter interrompido a carreira jornalística de forma voluntária para desenvolver outras atividades profissionais. Estas são muito variadas e dispersas, com as principais áreas a serem Assessoria (16,7%), Comércio ou Serviços (10,9%) e Agências e Gabinetes de Comunicação (10,1%).

O principal objetivo do estudo “Os jornalistas portugueses são bem pagos? Inquérito às condições laborais dos jornalistas em Portugal” é analisar as condições laborais dos jornalistas portugueses, conhecer a diversidade de percursos e perfis jornalísticos e identificar os principais constrangimentos e desafios que se colocam ao exercício da profissão de jornalista.

O inquérito é composto por 78 perguntas e foi respondido por quase 1600 jornalistas, entre 1 de maio e 13 de junho de 2016, tendo sido validadas 1494 respostas. A equipa de investigação do CIES-IUL é composta por Gustavo Cardoso, Joana Azevedo, Miguel Crespo e João Sousa. Este é o sexto grande estudo sobre os jornalistas e a atividade jornalística em Portugal produzido no âmbito do CIES/ISCTE-IUL, depois das investigações lideradas por José Manuel Paquete de Oliveira, José Luís Garcia e José Rebelo desde 1987.

Os resultados globais serão apresentados no próximo dia 14, no 4º Congresso dos Jornalistas, a realizar no Cinema S. Jorge, em Lisboa.

O EJO tem vindo a publicar as conclusões deste estudo, que por ser de grande fôlego não se esgota em apenas um artigo. Para ler mais veja os artigo em baixo, já publicados:
Maioria dos jornalistas tem licenciatura em comunicação e investe na formação contínua
Jornalistas têm quase 40 anos, trabalham mais em Lisboa e frequentaram a universidade

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